Bloqueio frustra visita de Aécio à Venezuela
Samy Adghirni – Folha de S. Paulo
• Comitiva de senadores volta ao Brasil sem obter reunião com políticos presos; militantes cercaram veículo do grupo
• Chegada de extraditado e lavagem de túnel atrapalharam saída de aeroporto; policial admite 'sabotagem'
CARACAS - Uma comitiva de oito senadores brasileiros foi a Caracas nesta quinta (18) e, após seis horas de espera, voltou sem conseguir se reunir com opositores do governo.
O veículo que levava o grupo, liderado por Aécio Neves (PSDB-MG) e pelo presidente da Comissão de Relações Exteriores, Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), ficou parado na saída do aeroporto Simón Bolívar, devido a um congestionamento causado por um bloqueio policial.
Na saída do terminal, o micro-ônibus foi cercado por dezenas de partidários do governo, que bateram no veículo gritando: "Chávez não morreu, multiplicou-se".
Neste momento, batedores fecharam o caminho, alegando que não havia condições de a comitiva prosseguir.
Sem poder sair do aeroporto, os senadores acabaram voltando ao Brasil no fim da tarde. Segundo a Folha apurou, a embaixada brasileira ofereceu um helicóptero para levá-los até o aeroporto militar La Carlota, na região central de Caracas, mas a alternativa foi recusada pela comitiva. Oficialmente, a embaixada nega ter feito a oferta.
Os senadores não puderam ser ouvidos porque estavam no voo de volta, que chegou a Brasília apenas nos primeiros minutos desta sexta (19).
Autoridades que escoltavam a comitiva alegaram que o bloqueio se devia a obras na pista, limpeza de túneis e segurança para o translado de um prisioneiro recém-extraditado da Colômbia. Mais cedo, o trânsito parou por um derramamento de carga --esta foi a razão apontada pelo presidente Nicolás Maduro para o tráfego impedido.
O avião com Yonny Bolívar, acusado de matar uma manifestante grávida nos protestos de 2104, aterrissou em Caracas às 11h (12h30, em Brasília), uma hora antes da chegada da aeronave da FAB que levou a comitiva.
À Folha, porém, um dos agentes da Polícia Nacional Bolivariana admitiu haver uma ação orquestrada para bloquear a passagem do veículo com os brasileiros.
Como o micro-ônibus não passou pelo acesso à estrada que leva a Caracas, a comitiva de senadores voltou ao aeroporto. Lá, foram recebidos pelas mulheres de opositores e pela deputada cassada María Corina Machado.
O deputado João Daniel (PT-SE), que foi a Caracas a convite do governo, disse que ficou preso no trânsito devido a um acidente, mas chegou à capital após quatro horas, por uma rota alternativa.
A Folha viu María Corina cogitar a rota alternativa, que passa por uma zona perigosa, mas o oficial do governo que acompanhava a comitiva disse que não poderia garantir a segurança do grupo, e os senadores recuaram.
"Nós fomos sitiados e impedidos de cumprir o objetivo da nossa missão. Isto é um claro incidente diplomático da mais alta gravidade, e vamos exigir que a presidente Dilma convoque para consultas o embaixador em Caracas [Ruy Pereira] e tome outras providências cabíveis", afirmou Aécio à Folha.
Para o senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), "eles [manifestantes] foram claramente pagos pelo governo".
Integravam a comitiva José Agripino (DEM), Ronaldo Caiado (DEM), Ricardo Ferraço (PMDB), José Medeiros (PPS) e Sérgio Petecão (PSD).
A previsão era que os senadores fossem ao presídio de Ramo Verde, onde tentariam visitar o opositor Leopoldo López, detido há mais de um ano acusado de instigar protestos contra o governo. Planejavam também visitar o prefeito metropolitano de Caracas, Antonio Ledezma, em prisão domiciliar.
Colaboraram Mônica Bergamo, colunista da Folha, e Fabiano Maisonnave, de São Paulo
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