Folha de S. Paulo
• Há pane no consumo, inflação resistente, derrotas no ajuste fiscal e prevê-se recessão na casa de 2%
Os economistas dos dois maiores bancos privados do Brasil passaram a concordar na projeção de que o PIB vai encolher 1,7% neste ano de 2015. Como os fatos da vida dura tornam-se tão mais graves, tão rápido, muita gente dá de ombros para abstrações tais como estimativas.
Porém, convém prestar alguma atenção, até para perceber a degradação de ânimos e estatísticas. Na primeira semana de 2015, a centena de chutes informados de economistas compilada semanalmente pelo BC dava, na mediana, crescimento de 0,5% para 2015. Considerem, pois, o tamanho do naufrágio.
O Itaú publicou ontem suas projeções revisadas. As do Bradesco são ainda de 29 de maio (três semanas agora é passado distante neste Brasil estropiado). De quebra, os economistas do Itaú estimam que o PIB cresça apenas 0,3% em 2016. Não paga nem de longe a conta da regressão de 2015. Para o pessoal do Bradesco, ainda cresceríamos 1% no ano que vem.
Previsão de economista não é, claro, nem de longe, destino. Mas esse pessoal precisa acertar para ganhar a vida e, menos prosaico, trabalha em bancos enormes, com operações espalhadas pelo país, lidando com gente que vai do correntista miúdo da conta-salário à empresa grande. Em suma, têm lá algumas informações adicionais para calibrar suas máquinas de cuspir estatísticas.
A informação adicional de todo mundo e quase qualquer um que se ocupe do assunto é que o caldo deu uma entornada adicional.
A previsão de aumento da receita de impostos do governo vai se revelando um chute padrão seleção brasileira de pontaria, pois exagerada, e a economia anda pior ainda do que se esperava. O Congresso talhou parte do pacote fiscal. Não vai dar para fazer o superavit fiscal prometido.
Faz algum sentido essa conversa de que "importante é perseverar na mudança" (na direção do reequilíbrio das contas públicas), mas perseverança não paga dívidas. Como resultado, começam a aparecer conversas sobre a necessidade de balançar o coreto, de um "minichoque" ou "terapia intensiva". Ninguém usa tais nomes, mas as ideias são por aí: aumentos excepcionais de receita, mudanças mais radicais no gasto, na política de câmbio etc.
A alta extra, inesperada, da inflação pelo jeito tem sido um empecilho para a queda da expectativa de inflação em 2016, que não tem aumentado, mas criou esse impasse sobre o futuro dos juros. O Banco Central, recém-reconvertido aos rigores da ordem, prometeu inflação de 4,5%. Com que roupa, com quais juros, não diz, mas provavelmente não dá pé. De qualquer modo, haverá juros mais altos ou mais inflação alta por mais tempo.
O consumidor entrou numa retranca muito maior que a prevista até pelos índices ora historicamente deprimidos de confiança. Como os dados mais precisos são de até abril, a pane no consumo pode ter sido um reflexo do clima de exasperação e choque de confiança políticos do primeiro trimestre. Pode ser também um colapso mais resistente.
A política pode dar contribuição extra ao azedamento adicional do país. Mas pode piorar. Daqui a 30 dias Dilma Rousseff terá de explicar as pedaladas do seu governo ao TCU, que pode rejeitar a defesa da presidente. Então, o Congresso pode rejeitar as contas de Dilma 1. Quanto vai custar essa negociação?
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