Por Cristian Klein – Valor Econômico
RIO - "Dilma, chega de ajuste fiscal, e superávit". A faixa estendida numa mesa lateral do seminário que comemorou os 36 anos do PT, no Rio - festejados em show esvaziado com a presença de Lula - era só um pequeno sinal do clima que aparentemente distancia o partido e a presidente. A orelha de Dilma queimou nas conversas dos petistas presentes ao simpósio da Fundação Perseu Abramo (sexta e sábado) e na reunião do diretório nacional (sexta), quando o PT lançou um Programa Nacional de Emergência, com 22 pontos para tirar o país da recessão e retomar o crescimento. É uma espécie de documento "Uma Ponte para o Futuro", só que à esquerda, para o desenvolvimentismo, diziam petistas, numa referência às propostas lançadas pelo PMDB, no ano passado.
Dilma, porém, não quer se comprometer com o PT. O distanciamento ficou tão evidente que preferiu alongar sua visita ao Chile. Evitou a saia-justa e a festa de um aniversário sem muitos motivos para comemorar. Atrair a massa de militantes foi uma utopia, nome digno para o armazém do porto que abrigou cerca de 1.500 pessoas, quando o esperado eram 4 mil. Mesmo com o chamariz de um cantor de samba popular e de Lula. Entre a base de militantes - em regra mais radicais que líderes partidários - e Dilma, o ex-presidente fez o papel que sempre cumpriu, o de amálgama, ou de cimento ideológico do PT.
Será que vai colar? Nos bastidores, houve quem traçasse um cenário ameaçador, quase de rompimento com Dilma, caso a presidente insista em se apoiar no aperto fiscal para superar a crise. "Não há governo, na história, que se sustente adotando um programa contrário ao que defendeu para se eleger", apontava um petista de São Paulo.
Menos catastrófico, o ministro Edinho Silva dizia ser possível o PT ceder nas negociações - mas não agora. Outros, como ele, lembravam que "é governo de coalizão".
Ou um jogo de simulação. O PT faz discurso para agradar seu eleitorado, e Dilma para acalmar o mercado.
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