- O Estado de S. Paulo
Não é o presente de aniversário com que o balzaquiano partido sonhava. Ao completar 36 anos, o PT regrediu a quando tinha 8. Não em quantidade de cargos eletivos e processos judiciais – já corriqueiros entre seus filiados –, mas em apelo popular. Segundo pesquisa inédita do Ibope, a taxa dos que se declaram petistas bateu 12% em fevereiro. É igual à de junho de 1988.
A regressão de 28 anos no alcance do petismo foi acompanhada de uma reação do aliado com o qual o PT mais gosta de brigar. Pela primeira vez em quase 16 anos, o PMDB empatou em proporção de simpatizantes com o PT: 11% dos brasileiros declararam preferência peemedebista. Como a margem de erro é de dois pontos, há um empate estatístico entre PT e PMDB que não ocorria desde julho de 2000 na série histórica do Ibope.
Para os peemedebistas que articulam o fim da aliança com o petismo, é razão para comemorar os 50 anos que o partido completará em março (somando-se o período em que era só MDB). É também quando Michel Temer tentará se reeleger presidente da legenda e retomar articulações de outra campanha presidencial.
Na última década e meia, o PMDB viu o PT crescer, tomar-lhe prefeituras, cadeiras no Congresso e governos nos Estados. Mesmo assim, ambos seguem aliados no plano federal desde 2004.
Os peemedebistas tentam recuperar com ministérios e diretorias de estatais o que perderam de poder e orçamento em cargos eletivos. Mas o casamento de conveniência é permeado de infidelidades. Corriqueiramente, são traições à orientação do líder do governo nas votações do Congresso. Nos momentos mais graves, viram maquinações pelo impeachment de Dilma Rousseff.
À decadência de um, correspondeu a ascensão do outro. Enquanto o PMDB acumulou 600 prefeituras perdidas nas últimas seis eleições municipais, o PT ganhou exatamente o mesmo número de prefeitos.
No pleito de 2012, com a máquina petista nas cidades buscando se equiparar à mais tradicional e ampla rede municipal do PMDB, o paradoxo da relação chegou ao seu apogeu. PT e PMDB foram, ao mesmo tempo, os maiores aliados e os maiores adversários da política brasileira. Não houve naquela eleição nenhuma outra dupla de partidos que tivesse tantos confrontos diretos nem tantas coligações entre si. Faces opostas de uma mesma moeda.
A derrocada do petismo começou logo depois disso. No conturbado período entre abril e julho de 2013, quando centenas de manifestações de rua paralisaram o País, a simpatia pelo PT experimentou a queda mais abrupta de sua história. Foi de recordes 36% para 22% em apenas três meses.
Desde então, a velocidade da queda do petismo desacelerou, mas o partido continuou rolando ladeira abaixo: 19% de simpatizantes em agosto de 2014, 18% em setembro, 16% em outubro, 14% em abril de 2015, 12% em outubro e, novamente, 12% em fevereiro de 2016.
Apesar da repetição da taxa, é cedo para saber se o partido chegou ao fundo do vale.
Seja como for, a preferência pelo PT foi reduzida ao mesmo patamar da pelo PMDB – que cresceu de 5% em abril de 2015 para 10% em outubro e chegou agora a 11%. É um sinal de que os órfãos do petismo, que, num primeiro momento, engordaram as cortes dos sem-partido, começam a buscar abrigo em outras agremiações – como fez a senadora Marta Suplicy.
De polo aglutinador que recebeu incontáveis adesões de simpatizantes de outros partidos – como a pedetista Dilma –, o PT se tornou desde 2013 um difusor de militantes. Seu poder centrípeto virou centrífugo. O teste definitivo será a eleição municipal deste ano. Se a um encolhimento do PT corresponder uma dispersão de prefeitos eleitos por dezenas de siglas diferentes, terá chegado ao fim o modelo PT x anti-PT que tem organizado a política brasileira pelo menos desde 2000. É uma revolução.
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