• Deputado vê retaliação do governo e afirma que país espera dia 11 para ‘ se ver livre’ do partido de Dilma
Leticia Fernandes - O Globo
- BRASÍLIA- Minutos após ser afastado por unanimidade pelo Supremo Tribunal Federal (STF) do mandato e da presidência da Câmara, Eduardo Cunha ( PMDB- RJ) foi à porta da residência oficial do presidente da Casa, em Brasília, para reiterar que “não renunciará a nada” e que vai recorrer da decisão. Ele abriu fogo contra o PT, que acusou de “retaliar” apenas por “querer companhia no banco dos réus”.
— É óbvio que tem um processo político por trás disso, em vários momentos enfrento a contestação do PT, que gosta de companhia no banco dos réus. O fato de ter conduzido a sessão do impeachment, que culminou com a votação que teve, mostra que ia ter uma reação, já era mais do que esperada — criticou o presidente afastado.
Celeridade “estranha”
Cunha, que passa a não mais estar na linha sucessória da Presidência da República em caso de ausência do mandatário e do vice-presidente, afirmou que em “nenhuma possibilidade” renunciará nem ao mandato de deputado federal, nem à presidência da Câmara. Seu mandato na presidência acaba em fevereiro de 2017.
Com o mesmo ar impassível com que abriu o processo de impeachment em dezembro do ano passado, manobrou em sessões legislativas e disse ao Conselho de Ética da Câmara não ser dono de contas na Suíça, Cunha afirmou ser “estranho” que o STF tenha resolvido julgar agora um pedido feito pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, em dezembro do ano passado.
— A gente respeita a Suprema Corte, obviamente a decisão tem que ser cumprida, mas não posso deixar de contestar e estranhar. Obviamente que vou recorrer. É uma ação cautelar de dezembro. Se havia urgência, por que demorar seis meses para dar a liminar? — questionou.
O presidente afastado respondeu ainda às declarações de Dilma, que comemorou a decisão do STF e disse “antes tarde do que nunca”. Ele afirmou que a era do PT acabará na próxima quarta-feira, data em que o impeachment será apreciado pelo plenário do Senado.
— Vamos ter o afastamento da presidente e depois sua saída definitiva, para que o Brasil possa se livrar dessa era do PT, que tanto mal fez ao nosso país. Que os crimes de responsabilidade cometidos pela presidente possam ser efetivamente punidos — disse Cunha, negando que tenha liderado o processo de impeachment. — Cumpri minha função, com correção. Quanto a dizer que “antes tarde do que nunca”, posso repetir a mesma frase. Quarta- feira que vem nós vamos dizer: antes tarde do que nunca o Brasil vai poder se livrar do PT — atacou.
Cunha voltou a reclamar do procurador-geral da República, Rodrigo Janot:
— Estranho essa ação cautelar estar sendo votada depois do impeachment — disse Cunha. — Os 11 fatos que são elencados são absolutamente contestáveis, e o mérito não foi devidamente debatido, com todo o respeito ao contraditório.
Ele ressaltou ainda observar uma "intervenção clara e nítida" do STF no Poder Legislativo, e questionou a celeridade dada à votação e afirmou que os 10 outros ministros da Corte, sem contar o relator, não tinham tido tempo para se debruçar sobre os detalhes do processo.
— São pontos muito graves, que têm ser colocados com detalhes. Isso à parte de uma intervenção clara e nítida no poder legislativo, a tal ponto que no próprio voto do ministro Teori ele diz que não tem previsão na Constituição para afastamento de presidente da Câmara e para suspensão de mandato.
Cunha citou como exemplo de tratamento diferenciado o caso do senador cassado Delcídio Amaral (sem partidoMS), que teve a prisão decretada pelo Supremo, mas não foi alvo de decisão sobre suspensão de mandato. Ele também respondeu a críticas de que teria manobrado para protelar o processo que responde no Conselho de Ética por quebra de decoro, onde é acusado de mentir sobre a existência de contas na Suíça. Ele voltou a criticar o presidente do órgão, deputado José Carlos Araújo.
— Não fiz qualquer intervenção no Conselho de Ética, temos um presidente de moral duvidosa e que efetivamente buscou os holofotes.
Silêncio no Rio
As assessorias de Eduardo Paes, Sérgio Cabral e Jorge Picciani, todos políticos do PMDB do Rio, disseram que eles não vão comentar o afastamento de Eduardo Cunha.
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