• Cardozo vai anexar carta de renúncia à defesa de Dilma no impeachment
Cristiane Jungblut e Leticia Fernandes - O Globo
-BRASÍLIA- A manobra envolvendo a renúncia de Eduardo Cunha à presidência da Câmara foi explorada pela cúpula do PT, que usou o fato para atacar o governo interino de Michel Temer e reforçar a guerra contra o impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff. No início da noite de ontem, Dilma se reuniu com a cúpula do PT e dirigentes do PCdoB, do PDT e de movimentos sociais no Palácio da Alvorada. Ela estava reunida com assessores à tarde, no momento da renúncia de Cunha. Como primeira reação, o ex-ministro José Eduardo Cardozo, advogado de defesa da presidente afastada na comissão do impeachment, disse que vai anexar a carta de renúncia de Cunha como prova na defesa de Dilma.
No encontro à noite, Dilma fez uma avaliação da conjuntura e, segundo relatos, falou sobre suas viagens pelo país e encontro com senadores indecisos.
— Sabemos que essa renúncia faz parte de um acordão maior. A simples renúncia não impacta muito (nos trabalhos da comissão do impeachment). Vamos lutar para que Cunha seja cassado no plenário, e vamos denunciar os partidos que defenderem o mandato dele — disse o senador Lindbergh Farias (PT-RJ), que esteve no Alvorada.
AO GLOBO, Cardozo disse que Cunha confessou ter agido por vingança contra Dilma quando declarou que foi perseguido por ter aberto o processo de impeachment na Câmara.
— Isso mostra o caráter de vingança dele, porque o PT não fez qualquer tipo de acordo com ele. É mais uma prova, há evidências de desvio de poder — disse Cardozo.
O líder do PT na Câmara, Afonso Florence (BA), esteve no Alvorada e disse que a luta “anti-golpe” continua. Num ato falho, ao fazer a associação entre Temer e Cunha, o petista chamou o deputado afastado de “Michel Cunha”.
— É um acordo entre Eduardo Cunha e Michel Temer. É uma renúncia prevista que tem por objetivo blindá-lo para preservar o seu mandato e continuar a servir ao governo que ele elegeu — disse Florence.
As críticas não partiram só da oposição. O líder do DEM na Câmara, Pauderney Avelino (AM), reagiu à manobra de adiamento da sessão da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) para votar o recurso de Cunha:
— Já cancelaram a sessão da CCJ. Isso é muito sintomático. Não podemos concordar com essas coisas. Afinal, estaremos elegendo o presidente da Câmara e o vice-presidente da República.
O mais fiel aliado de Cunha, Carlos Marum (PMDB-MS), se disse triste, mas com a consciência tranquila.
— Eu fico triste porque tenho medo de que exista nisso tudo uma grande injustiça. Não havia como resistir a esse tsunami de pressões que o deputado vinha recebendo.
O líder do PSOL na Câmara, Ivan Valente (SP), comemorou duas vitórias:
— A primeira vitória é o fim da desmoralização da Câmara dos Deputados. E a segunda vai ser a cassação e prisão de Eduardo Cunha. Eduardo Cunha não comove ninguém.
O vice-presidente do Senado, Jorge Viana (PT-AC) , disse que Cunha expôs as "vísceras" da crise gerada pelo impeachment :
— O grande artífice, o grande engenheiro do impeachment hoje renunciou.
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