O Ministério da Justiça não é uma pasta qualquer. Não apenas por suas responsabilidades gerenciais — a ele está subordinada a Polícia Federal, por exemplo —, mas também pelo seu peso político. Por isso, o presidente Michel Temer deve se cercar de cuidados especiais na escolha do substituto de Alexandre de Moraes, indicado por ele ao Supremo. Temer se propõe — e tem conduzido este projeto com zelo e, felizmente, com êxitos até surpreendentes — a retirar o país da sua mais grave recessão, causa da enorme tragédia social que são, até momento, pouco mais de 12 milhões de desempregados.
A emenda constitucional do teto dos gastos foi aprovada, começou a discussão da imprescindível reforma da Previdência com prognósticos positivos, e a inflação desaba. Começa, assim, a arrumar a economia arruinada pelo lulopetismo.
Tão logo assumiu interinamente, no afastamento de Dilma Rousseff na aceitação do processo de impeachment no Senado, o vice-presidente Temer passou a afastar temores de que interferiria na Lava-Jato ou deixaria que interviessem. Temores fundados no fato de o PMDB, partido de Temer, ser, com PT e PP, dos mais atingidos no desbaratamento do enorme esquema de corrupção montado nos governos Lula e Dilma na Petrobras e outras empresas públicas. Aproxima-se a divulgação dos depoimentos feitos por acionistas e executivos da Odebrecht, em que haverá citações do presidente e denúncias contra ministros de seu governo, bem como registros de atos nada republicanos de peemedebistas. Assim, a nomeação de um ministro da Justiça, superior hierárquico da PF — cujo diretor-geral, Leandro Daiello, faz um bom e profissional trabalho no apoio à Lava-Jato — deve ser visto por alguns como preciosa chance de o Planalto conter a operação.
Registre-se que Temer tem dado boas demonstrações ao afastar ministros do círculo íntimo quando aparecem envolvidos em casos indefensáveis. Foi assim com o ministro do Planejamento, senador Romero Jucá (PMDB-RR), gravado enquanto conspirava contra a Lava-Jato em conversas com outros senadores do partido e o ex-presidente Sarney; foi assim, também, com o ministro-secretário Geddel Vieira Lima, denunciado pelo colega Marcelo Calero, da pasta da Cultura, por pressioná-lo a legalizar junto ao Iphan a construção de um arranha-céu em área protegida, em Salvador, no qual comprou um apartamento.
Neste momento, ocorrem, porém, movimentos em Brasília que estimulam especulações sobre o risco de o Planalto aproveitar para enfim atrapalhar a operação baseada em Curitiba. Não é bom sinal a acintosa escolha do senador Edson Lobão (PMDB-MA), investigado pela Lava-Jato, para presidir a Comissão de Constituição e Justiça, em que Moraes será sabatinado, e é também responsável por chancelar a indicação para o procuradoria-geral da República, cargo-chave nas investigações de corrupção. Preocupa, ainda, a promoção de Moreira Franco a ministro, entendida como manobra para dar-lhe foro especial, caso venha a ser acusado pelo MP. O certo é que Temer não pode indicar para a Justiça alguém que tenha feito qualquer crítica à Lava-Jato ou a outra operação do gênero, assim como se oposto ao instrumento da delação premiada. Para o bem de seu governo e em nome do resgate da economia.
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