Enquanto não se votam as reformas trabalhista e previdenciária, a melhor notícia econômica do ano, até o momento, é a queda da inflação em ritmo mais rápido do que se previa.
O IPCA, índice de preços adotado como referência para a política de juros do Banco Central, mostrou variação de 4,8% nos 12 meses encerrados em fevereiro —há um ano, a taxa acumulada chegava a 10,4%. Há boas razões para crer que a tendência de redução se manterá nos próximos meses.
Até o final do ano passado ainda se notavam os efeitos da alta do dólar em 2015, que encareceu os produtos importados. Ademais, a indexação de contratos e salários mantinha por inércia a alta dos preços dos serviços —que incluem itens tão diferentes como aluguéis, serviços médicos, transporte escolar e acesso à internet.
Desde então, a dinâmica mudou. Os últimos dados do IPCA refletem melhoras gerais. A safra agrícola recorde eleva a oferta de alimentos; o pior da alta das tarifas públicas ficou para trás; as cotações do dólar se acomodaram.
Mesmo os sempre resistentes preços dos serviços mostram desaceleração consistente. Em 12 meses, subiram pouco menos de 6%, ante quase 8% medidos há um ano.
Há ampla ociosidade nas fábricas e elevada taxa de desemprego, que, infelizmente, tão cedo não será revertida. Em tais condições, a debilidade do consumo deve manter a inflação em declínio.
Coletadas pelo Banco Central, as projeções dos analistas de mercado continuam a recuar e já se aproximam dos 4% ao final deste ano. Desde 2009 não se vê uma taxa abaixo da meta oficial de 4,5%.
O risco agora é que se erre para menos —ou seja, que a política econômica resulte em inflação muito abaixo do objetivo fixado, talvez próxima a 3% ou 3,5%, com sacrifícios desnecessários para a produção e a renda do país.
Fatores que nos últimos anos conspiraram para a ineficácia da ação do BC não estão mais presentes: os gastos do Tesouro Nacional estão congelados, e os bancos oficiais já não distribuem crédito de forma irresponsável.
Abre-se a oportunidade para uma queda ainda mais célere dos juros. A taxa oficial, a Selic, foi reduzida em 0,75 ponto percentual no mês passado, para ainda exagerados 12,25% ao ano. Mantido esse ritmo, ela só cairia abaixo dos 10% no segundo semestre.
São mais que razoáveis, nesse cenário, as apostas em cortes mais agressivos daqui para a frente, dadas a inflação sob controle e a fraqueza da economia, que mal começa a convalescer da brutal recessão que custou 9% do Produto Interno Bruto desde 2014.
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