- O Estado de S. Paulo
Nesse momento em que convivem os primeiros sinais de retomada da atividade econômica com outros, ainda muito fortes, de recessão, uma pergunta é inescapável: qual será o ritmo dos investimentos em 2017 e sua contribuição para a reativação da economia? Já foi dito e repetido que os incentivos ao consumo serão específicos, como é o caso da liberação das contas inativas do FGTS, suficientes para garantir algum impulso à economia, mas não para patrocinar um ciclo de crescimento que vá além do chamado “voo de galinha”.
Para quem busca essa resposta, o retrato dos investimentos revelado pelo PIB de 2016 é, na melhor das hipóteses, preocupante. Mais ou menos como uma selfie sem filtro, que confirma os sinais de deterioração da própria imagem. A taxa de investimentos situou-se em 16,4% do PIB, na média do ano, e chegou a 15,6% no quarto trimestre – é a primeira vez que não ultrapassa a casa dos 16%. E quem acompanha um pouco a economia sabe que a marca de 20% é quase simbólica para identificar se países como o Brasil estão ou não no rumo do crescimento.
Os indicadores de confiança do setor privado – que espelham a disposição de investir do empresariado – não dão margem a grandes esperanças de uma rápida virada nesse quadro. Na indústria, por exemplo, esse indicador caiu em fevereiro, depois de alta em janeiro, o que a FGV, responsável pelo levantamento, classifica como uma acomodação das expectativas. É verdade que a própria FGV constata uma melhora na intenção de investimentos da indústria, no primeiro trimestre deste ano, com uma proporção idêntica das empresas que projetam investir mais nos 12 meses seguintes e as que projetam investir menos (19,9%).
Mas também alerta para riscos de adiamento nesses planos, a depender principalmente da evolução do cenário político. Afinal, com ociosidade ainda elevada, diante de incertezas, as indústrias tenderão a ocupá-la até o limite antes de partir para a compra de máquinas e equipamentos, mesmo que a queda dos juros e o afrouxamento do crédito favoreçam a alternativa.
Do setor público, não se pode esperar grande ajuda. Segundo cálculos da Instituição Fiscal Independente (IFI), órgão ligado ao Senado, o setor público precisa cortar quase R$ 39 bilhões este ano para cumprir a meta fiscal de R$ 143 bilhões. E, quando se fala em corte de gastos, já se sabe onde começa. Exatamente nos investimentos. Mesmo assim, com a provável frustração das metas de arrecadação, já que as contas do governo se baseiam num crescimento do PIB de 1,6%, e o mercado faz fé em algo em torno de 0,5%, está no ar, de novo, a possibilidade de aumento de impostos.
Concessões. É no programa de concessões que o governo Temer põe suas fichas. Prova é que tentou aliviar o baixo astral da tragédia do PIB em 2016 com o anúncio da atualização do Programa de Parceria de Investimentos (PPI). Trata-se de um conjunto de projetos – abrangendo 35 lotes de transmissão de energia, 11 terminais portuários, 5 ferrovias, 2 rodovias e, novidade, 14 de saneamento – que representam investimentos de R$ 45 bilhões.
As mudanças de regras nas concessões, apresentadas no ano passado, foram consideradas “pró-mercado”. Uma das queixas dos potenciais investidores era relativa à falta de proteção contra eventuais variações no câmbio – e esta foi atendida com a criação de um seguro cambial, que sairá do dinheiro a ser pago para o governo. O teste do novo mecanismo será no leilão dos aeroportos de Fortaleza, Salvador, Florianópolis e Porto Alegre, marcado para quinta-feira.
Ainda há dúvidas quanto ao tamanho e ao prazo do impacto dessas novas concessões. Muitos analistas veem lentidão no programa, até mesmo pela estrutura limitada das áreas do governo dedicadas ao PPI – envolvidas não só em tocar em frente os projetos da União, como também em dar suporte a projetos estaduais e municipais, que espraiariam o investimento por todo o País. Afinal de contas, há pressa para alavancar novas obras de infraestrutura – está aí o atoleiro da BR-163, no Norte do País, que ameaça o escoamento da supersafra de soja – e para ver a economia finalmente deslanchar. Mas tudo tem seu tempo. Agora é pôr o PPI para funcionar e esperar que a tempestade política não cruze seu caminho e afaste investidores.
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