A deterioração política vivida pelo governo Michel Temer (PMDB) ameaça reproduzir, em parte, um roteiro já percorrido em ocasiões anteriores. A cada nova tentativa de sobreviver a crises do gênero, seus personagens parecem contribuir para agravá-las.
Contando ainda com apoio parlamentar, embora condicional e precário, o presidente da República resistiu ao primeiro impacto da delação premiada de Joesley Batista e conseguiu, bem ou mal, conduzir a aprovação de uma série de medidas provisórias no Congresso.
Sustenta, assim, a aposta na continuidade de sua política de reformas —ou, pelo menos, na possibilidade de que o Legislativo não se paralise completamente em função dos debates sobre uma eventual troca no Planalto.
Falar em alívio momentâneo seria exagero, contudo, diante de uma conjuntura em que todo dia traz novos desgastes ao mandatário —nesta sexta (26), por exemplo, anunciou-se o pedido de demissão de Maria Silvia Bastos Marques da presidência do BNDES, por motivos não inteiramente claros.
Temer debate-se em meio à turbulência, e é nesse esforço que pode agravar as circunstâncias das quais procura se livrar.
Será esse o caso, sem dúvida, se confirmadas as notícias de uma pretensa estratégia para o julgamento de sua cassação pelo Tribunal Superior Eleitoral.
Está marcada para o dia 6 de junho a primeira sessão em que se volta a analisar o pedido de impugnação da chapa encabeçada por Dilma Rousseff (PT), tendo o peemedebista como vice.
Antes de vir à tona o seu encontro sigiloso com o empresário da JBS, o presidente da República confiava, ao que se diz, num veredito favorável à sua permanência no cargo, ainda que por incerta maioria entre os sete ministros do TSE.
Os prognósticos passaram a inverter-se depois da última semana. Uma eventual condenação da chapa, amparada em evidências de abuso do poder econômico, surgiu como solução menos traumática para um impasse em que opções como renúncia ou impeachment não estão fora de cogitação.
Segundo informa-se em Brasília, entretanto, o presidente Temer não está conformado com tal possibilidade —investindo, ao contrário, na sobrevida que um adiamento das deliberações da Justiça Eleitoral lhe poderia oferecer.
Bastaria que um ministro pedisse vista dos autos, requerendo mais prazo para dar seu voto. Ainda que se possa admitir tal atitude, certamente lícita do ponto de vista processual, maiores dilações nesse processo só poderão ser percebidas como manobra protelatória.
O julgamento do TSE não pode tardar mais. O país não merece que uma nova sombra de incerteza e desconfiança paire sobre seu presidente. É hora de decidir.
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