- O Estado de S.Paulo
A maior incerteza agora são as taxas de crescimento do Produto Interno Bruto
Os caciques políticos que articulam a transição já falam reservadamente numa espécie de condição para a permanência do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, no comando da equipe econômica num eventual governo pós-Temer: que o nome do goiano não esteja na lista das eleições de 2018.
Para aqueles articuladores que preferem manter a equipe do jeito que está, um compromisso de Meirelles de que não concorrerá à Presidência da República no ano que vem poderia afastar dele a ciumeira dos políticos. E, sobretudo, os torpedos que já começaram a ser lançados na sua direção nesse momento de indefinição em que a economia está refém da política.
Hoje, o ministro já é alvo. O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, disparou a artilharia ao dizer ontem que discorda que Meirelles seja o nome mais viável em uma eleição indireta para continuar as reformas econômicas na eventual queda de Temer. Alckmin (é bom lembrar) assumiu compromisso com a continuidade das reformas, mas não foi um apoiador entusiasmado de primeira hora.
O mercado apoia Meirelles para continuar na Fazenda. É o nome preferido, já que reúne com ele uma equipe azeitada. Mas os investidores querem antes de tudo ver a continuidade das reformas. Nos vários cenários políticos, que estão sendo traçados para a construção do governo de transição, não há nenhum até agora que não aponte nessa direção. Afinal, crise política que gera crise econômica é aquela que lança dúvida sobre a orientação das políticas no futuro.
Foi assim em 2002 na campanha do ex-presidente Lula para a Presidência. Se achava na época que Lula iria violar contratos e muito mais. No momento em que Lula assumiu e se comprometeu com o ajuste, o mercado acalmou.
Na mensalão, em 2005, houve uma reação muito parecida do mercado com a atual crise vivida pelo presidente Temer. Quando ficou claro que a política iria continuar, mais uma vez as coisas se acalmaram.
Agora, a aposta do mercado é que, com ou sem Temer, a política econômica será mantida. Se há incerteza quanto à reforma da Previdência, há a surpresa positiva da forte queda da inflação, que não será afetada pelo novo cenário econômico desde que a taxa de câmbio fique na faixa atual dentre R$ 3,20 e R$ 3,30. Ou seja, a crise atual não é inflacionária.
Antes do dia 18 de maio, quando eclodiu a crise, o mercado financeiro já havia entrado em um cenário que tomava como certa a aprovação da reforma da Previdência. Um dos títulos do Tesouro com correção pela inflação e vencimento em 5 anos, a NTN-B, sinalizava uma taxa de juros real abaixo de 5% ante mais de 7% no início de 2016.
Até agora, as taxas de juros dos contratos futuros haviam recuado metade do crescimento da semana anterior, e o mercado continua apostando que a Selic vai para perto de 8% no final de 2017. No meio de tanta incerteza, esse não deixa de ser um cenário positivo.
A incerteza maior agora são as taxas de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). Alguns apostam que o cenário político pode até afetar pouco o crescimento do PIB para 2017, mas compromete fortemente a recuperação esperada para o próximo.
Para investidores de mais longo prazo, a crise não vai interromper o cronograma de privatizações e, em especial, a venda de ativos do setor de energia e os leilões de petróleo que já estão programados. Em uma conjuntura de dólar mais valorizado, isso significa que esses ativos ficaram mais baratos.
E, do ponto de vista fiscal de curto prazo, as novas medidas provisórias (renegociação de dívidas das empresas junto a autarquias e de prefeituras, a MP em discussão do Funrural e as modificações no Refis) ajudarão o governo a cumprir a meta fiscal deste ano e ainda reduzir o contingenciamento, como já ocorreu na semana passada.
O maior problema é, sem dúvida, a reforma da Previdência e os sinais quanto ao crescimento da despesa pública no longo prazo. Um grupo no mercado acredita na aprovação da reforma, mesmo que ela passe por uma nova diluição. O que impressiona é que, mesmo com dúvidas, o mercado se mantém otimista.
Para continuar contando com a boa vontade do mercado, que já aceitou um ajuste fiscal gradual das contas públicas, é preciso que o cenário de indefinição política seja resolvido rapidamente – qualquer que seja a solução.
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