Mario Cesar Carvalho, Mariana Carneiro, Lucas Vettorazzo | Folha de S. Paulo
SÃO PAULO, BRASÍLIA - Sob pressão de setores empresariais e, em meio a um clima tenso com os funcionários do banco, a presidente do BNDES, Maria Silvia Bastos Marques, pediu demissão nesta sexta-feira (26).
Ela informou sua saída pessoalmente ao presidente Michel Temer, em Brasília, e enviou comunicado aos funcionários do banco.
Em seu lugar, Temer escolheu o economista Paulo Rabello de Castro, presidente do IBGE. Segundo a Folha apurou, os atuais diretores do banco devem ficar nos cargos apenas na transição.
Na carta enviada aos funcionários, Maria Silvia justifica que seu afastamento se deu por "razões pessoais", "com orgulho de ter feito parte da história dessa instituição tão importante para o desenvolvimento do país."
Mas um caldo de descontentamento está por trás da saída de Maria Silvia, que deixa o banco poucos dias antes de completar um ano no cargo.
O setor produtivo passou a reclamar diretamente ao presidente Temer da dificuldade, segundo os empresários, em obter financiamentos do banco. Há pouco mais de um mês, a insatisfação tornou-se pública a ponto de o Planalto emitir nota negando a intenção de retirá-la do cargo.
Se os financiamentos encolheram, também é verdade que a demanda por crédito diminuiu, na esteira da recessão. Nos primeiros três meses do ano, o volume de consultas ao BNDES, primeira etapa para um financiamento, foi 27% inferior ao registrado no mesmo período de 2016.
EFEITO JBS
Além da pressão externa, Maria Silvia passou a sofrer com a desconfiança de funcionários após a Operação Bullish, da Polícia Federal, que investiga aportes feitos pelo braço de investimentos do banco, o BNDESPar, para a JBS entre 2007 e 2009.
No dia 12 de maio, a Polícia Federal levou mais de 30 técnicos para depor sob condução coercitiva.
Os funcionários criticaram Maria Silvia por não ter feito, na visão deles, uma "defesa contundente" da instituição e do corpo técnico do banco. Naquele dia, mais de uma centena de funcionários protestou em frente à sede do BNDES no Rio.
O clima interno piorou depois que Temer afirmou, em pronunciamento no sábado (20), que Maria Silvia estava "moralizando o BNDES".
O discurso enfureceu funcionários, que consideraram que o silêncio da presidente após a declaração chancelava as acusações. Desde então, o clima descrito na instituição é de uma espécie de "greve branca", que paralisou as atividades, pois muitos se disseram receosos em assinar documentos sem o respaldo da cúpula.
As operações sob investigação ocorreram antes da chegada de Maria Silvia ao BNDES. Tanto a PF quanto o TCU querem saber se funcionários e o ex-presidente, Luciano Coutinho, receberam vantagens para liberar os investimentos do banco na JBS.
Com aportes que somaram R$ 8,1 bilhões (em valores da época), o BNDES tornou-se um dos principais sócios do frigorífico JBS, com cerca de 30% do controle da empresa.
Desde 2011, porém, o banco vendeu parte de suas ações no mercado e repassou, por determinação do governo, R$ 1,8 bilhão em ações para a Caixa, em 2009. Atualmente, a fatia é de cerca de 20%.
Os aportes suscitaram processos no TCU (Tribunal de Contas da União), abertos em 2015, e estão na origem do inquérito aberto pela Polícia Federal. Uma nova CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para apurar a relação do banco com a JBS foi criada nesta semana, no Congresso, após a delação de Joesley Batista, um dos donos da empresa.
Para responder às acusações, Maria Silvia anunciou a criação de uma comissão para apurar suspeitas de irregularidades, mas a investigação está em fase preliminar.
Na quinta (25), a associação de funcionários do BNDES distribuiu uma nota em que criticava as acusações da Policia Federal e do TCU (Tribunal de Contas da União).
"Não há nenhuma 'moralização' ocorrendo no processo de nomeação de conselheiros em empresas investidas da BNDESPar. Os empregados do BNDES indicados para conselhos de administração ou fiscal das empresas investidas pelo Banco não recebem remuneração no exercício dessa atividade", afirmou a nota.
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