- Folha de S. Paulo
O total de dinheiro emprestado na economia ainda cai. Cai principalmente por causa do arrocho nos bancos públicos, maior que nos bancos privados depois que Michel Temer assumiu o governo. Cai ainda mais no BNDES.
Em maio, o estoque de crédito, o total de dinheiro emprestado, diminuiu 6,4% em relação a maio de 2016, queda de R$ 211 bilhões.
Cerca de dois terços dessa baixa deveram-se à redução no estoque de crédito dos bancos públicos (45% apenas no BNDES, 23% nos demais estatais).
Os bancos públicos têm 56% no mercado de crédito. Consideradas as proporções, arrocharam mais.
O estoque de crédito nos bancos públicos caiu 7,7% em um ano. Nos bancos privados, 4,8%. Nos privados nacionais, voltou a crescer, alta de 0,4% em maio. No BNDES, a baixa ainda é de 14%.
Essas contas não são, claro, uma explicação do que se passou nesse mercado. Menos ainda implicam recomendação do que fazer. Isto é, não implica dizer que, dado que a economia está congelada também por falta de crédito, seria preciso então abrir as burras dos bancos estatais, necessariamente.
Os números dão o que pensar, no entanto.
A parte maior do arrocho dos bancos públicos vem do BNDES. Melhor dizendo, ocorre no BNDES. Parece compreensível. Em geral, o bancão empresta dinheiro para que empresas invistam; o investimento está em colapso faz três anos, embora a maior baixa tenha acontecido em 2015.
Mas o dinheiro emprestado pelo BNDES diminui por falta de pedidos das empresas ou por falta de disposição de emprestar? Um pouco dos dois, claro, embora desde o ano passado os desembolsos do banco caiam em ritmo bem maior que o de consultas de empresas.
Há algo mais nessa história, pois.
A baixa do estoque de crédito começou mais cedo nos bancos privados, ainda no início de 2014, quando também começava a recessão (as comparações são aqui sempre anuais). Nos bancos públicos, começou dois anos depois, início de 2016, ainda sob Dilma Rousseff.
A retração do crédito nos bancos públicos se tornou mais veloz com o governo Temer. O ritmo do arrocho do crédito dos estatais tornou-se maior que o privado em novembro do ano passado.
Os bancos privados nacionais voltaram a aumentar sua carteira de empréstimos; nos bancos públicos fora o BNDES, ainda há contração, de 4%.
A retração do BNDES provocou as manjadas queixas de empresários, pressão que ajudou a derrubar Maria Silvia Bastos Marques, presidente do banco no primeiro ano de Temer. Maria Silvia, no entanto, fez mais. Tentou pensar menos em setores, mais em empresas.
Mais em investimento de interesse social, ambiente, infraestrutura; para empresas menores. Talvez decisivo para seu destino, propôs o fim dos juros subsidiados.
Empresários clientes do banco reconhecem que a demanda de empréstimos caiu, dadas a incerteza e a brutal capacidade ociosa. Ainda assim, dizem que o banco "travou" empréstimos, "sentou sobre um caixa imenso", quando poderia facilitar negócios, reestruturar dívidas, baratear o capital de giro.
Enfim, a disparidade de ritmos entre públicos e privados depende, sim, de especificidades operacionais desses bancos. Mas está difícil descartar uma política deliberada de enxugamento estatal.
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