- Valor Econômico
Barômetro Coface vê economia em momento positivo
O Brasil está estagnado como uma economia de renda média há quase seis décadas. Essa é uma das características que o país compartilha com seus pares latino-americanos e estabelece forte contraste com as economias da OCDE que receberam semelhante classificação por apenas 25 anos. No Brasil a redução da complexidade da economia também sugere oportunidades perdidas para maior desenvolvimento da indústria e setores intensivos em tecnologia. A taxa de crescimento anual média da produtividade total dos fatores - indicador de eficiência no uso do capital e trabalho de uma economia - permanece negativa há duas décadas. Nesse longo período, o Brasil cresceu, informa o Fórum Econômico Mundial. Contudo, a expansão basicamente compensou períodos de retração que ocorreram ao longo do tempo. O Brasil tenta neutralizar taxas negativas de desempenho do passado. Mas também na economia vale o velho ditado: "É para frente que se anda."
No fim deste mês, o Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE) divulga o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre e as projeções caem. A atividade que surpreendeu no terceiro trimestre de 2017, e não chegou a decepcionar no quarto, perdeu pulso no início de 2018.
O Itaú Unibanco, maior banco privado do país, anunciou, na sexta, a revisão de cenário. O real foi desvalorizado de leve em relação ao dólar, a inflação para este ano teve pequena alta, mas permaneceu abaixo de 4%, e a de 2019 manteve-se em 4%. A instituição reduziu de 3% para 2% a projeção para o PIB deste ano; e de 3,7% para 2,8% o de 2019. Para o primeiro trimestre, a estimativa recuou de 0,5% para 0,3%.
"A economia não está caminhando na velocidade que se desejava. E está claro que o governo precisa adotar uma agenda com mais vitalidade", afirmou à coluna o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Dyogo Oliveira.
No início da semana passada, o ex-ministro do Planejamento reuniu-se com o presidente Michel Temer e o ritmo de expansão da atividade foi objeto de avaliação. Dias depois, Dyogo Oliveira recebeu representantes da Anbima e com a entidade de classe foi estabelecida "uma boa agenda".
"O BNDES vai ancorar emissões de debêntures de infraestrutura e fundos também para infraestrutura e para pequenas empresas", explicou o presidente da instituição. Essa ancoragem ou compra firme deve garantir liquidez aos novos papéis. Para este ano, o BNDES tem uma carteira potencial de R$ 54 bilhões em infraestrutura.
O banco entrará como parceiro dos emissores de títulos para fomentar o mercado de capitais. "Essa é uma das prioridades do BNDES. Vamos colocar em prática instrumentos que já defendíamos quatro ou cinco anos atrás", acrescenta Oliveira, que está animado com a perspectiva de publicação do decreto que permitirá ao BNDES iniciar os estudos para a privatização da Eletrobras.
Na semana passada, o banco de fomento anunciou nova rodada de corte em seus spreads de risco, que cobrem eventuais perdas por inadimplência de clientes. A redução se dará em percentuais que vão de 25% a 50%, a depender da classificação de risco das empresas na instituição.
O BNDES também acertou com o Ministério da Fazenda o cronograma de antecipação dos R$ 100 bilhões referentes a empréstimos feitos junto ao Tesouro Nacional. "A primeira parcela de R$ 30 bilhões foi paga em 29 de março deste ano. Pelo novo cronograma, a segunda parcela do empréstimo, no valor de R$ 30 bilhões, será desembolsada na segunda quinzena de junho. Na primeira quinzena de agosto, serão devolvidos R$ 40 bilhões e, na segunda quinzena do mesmo mês, os R$ 30 bilhões restantes", diz a instituição em nota distribuída na sexta-feira, em que o banco esclarece que o objetivo é compatibilizar os pagamentos do BNDES com as datas de vencimento mais relevantes dos títulos da Dívida Pública Mobiliária Federal.
"A decisão de antecipar o cronograma de pagamento é racional. O banco tem um caixa elevado e o Tesouro Nacional está apertado para cumprir a 'regra de ouro'. Nada mais razoável, portanto, que adiantar os recursos", afirmou Oliveira.
Promotora de um seminário em São Paulo na semana passada, a Coface para América Latina, empresa especializada em seguro de crédito, divulgou recentemente sua publicação "Barômetro de risco de países e setores" referente ao primeiro trimestre de 2018, em que estima crescimento da economia global de 3,2% neste ano, mas em fase final, enquanto a expansão da atividade latino-americana está no ciclo inicial e deve se acelerar nos próximos anos.
O cenário internacional benéfico contribuiu para que países latinos saíssem da recessão ocorrida entre 2015 e 2016, diz a instituição, que vê espaço para a manutenção de uma política monetária expansionista na maior parte da região. A Coface lembra que países latinos, incluindo o Brasil, escaparam da recessão em 2017. "O Brasil cresceu nos últimos três trimestres e o PIB deve fortalecer neste ano. Estimamos alta de 2,8%, acima de 1% no ano passado, por recuperação do consumo das famílias e crescimento das exportações", afirma o Barômetro.
Os pesquisadores da Coface lembram que o Comitê de Política Monetária (Copom) iniciou o corte da Selic em outubro de 2016 e, desde então, já reduziu a taxa básica em 7,75 pontos percentuais. E a expectativa é de que o juro decline a 6,25%, na reunião do colegiado que terminará na quarta, dia 16.
Apesar das perspectivas mais positivas, os investimentos provavelmente permanecerão prejudicados por incertezas eleitorais, afirma a Coface, que reconhece a dificuldade de prever o resultado do pleito, cuja campanha começa em agosto. A instituição lembra que é improvável a candidatura do ex-presidente Lula, embora liderasse pesquisas de opinião, por ter sido condenado à prisão por crimes de corrupção e lavagem de dinheiro. A Coface lembra que as pesquisas mostram outro candidato em destaque, Jair Bolsonaro, e avalia que "declarações e atitudes provocativas de Bolsonaro, ainda que ele suavize seu peso, podem agravar o já tenso ambiente social no Brasil caso se eleja".
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