- Folha de S. Paulo
A falta de alternativas talvez dê a vitória a um político tradicional
Com a saída de cena de Joaquim Barbosa, a eleição presidencial brasileira de 2018 parece caminhar para não ter mais nenhum candidato outsider. Isso não é necessariamente ruim. A esperança de um outsider era ao menos em parte baseada na ilusão de que o que falta para o sistema brasileiro é um presidente honesto. Isso é falso, e é bom que as pessoas sejam forçadas a reconhecer que é falso.
Mas, de qualquer forma, o fracasso dos outsiders é uma notável demonstração de força do sistema político.
Tanto Barbosa quanto Huck eram eleitoralmente viáveis e raciocinaram, com muita plausibilidade, que os partidos, depois da crise da Lava Jato, estariam desesperados atrás de candidatos viáveis. Huck esperava que o pessoal do campo tucano percebesse seu potencial e o aclamasse. Barbosa esperava algo semelhante no campo Marina/PSB.
Não aconteceu nada disso.
O sistema político, no momento, sente-se forte o suficiente para dispensar outsiders que complicariam alianças locais, poderiam revelar-se imprevisíveis no poder (como foi, em certa medida, Dilma Rousseff) e, no fim das contas, não possuem a rede de lealdades (inclusive as legítimas) que os dirigentes partidários organizam (e é importante que alguém as organize).
No momento, as pesquisas eleitorais ainda são lideradas por seminovidades: Bolsonaro, Marina, Ciro. São políticos profissionais que concorrem por partidos pequenos ou, no caso de Ciro, médio.
Talvez um ou mais entre eles consiga assumir a liderança dos campos antes organizados por PT e PSDB e talvez tragam ao menos alguma possibilidade de renovação para dentro de sua coalizão. No caso, o influxo de novos líderes que PT e PSDB se recusaram a fazer seria feita pela adesão a outras candidaturas dentro da mesma coalizão.
Vamos supor, entretanto, que o sistema partidário também consiga barrar as seminovidades e que os três sofram com as dificuldades que atormentaram as duas últimas candidaturas de Marina: falta de tempo de TV, de estrutura partidária, de dinheiro para a campanha, de capilaridade.
Será preciso então responder à seguinte questão: o sistema partidário, que terá demonstrado grande poder de veto, terá também poder de iniciativa? Além de barrar as candidaturas dos outsiders, os partidos vão conseguir propor agendas, lançar candidaturas fortes, conquistar votos?
Isso parece bastante incerto. Temer, por exemplo, conseguiu se defender com grande eficiência da Lava Jato, mas é evidente que sua capacidade de propor reformas caiu depois das denúncias contra ele. Os candidatos mais identificados com o establishment vão muito mal nas pesquisas.
Nos próximos meses saberemos se as seminovidades serão capazes de se sustentar eleitoralmente e que potencial de renovação elas realmente têm. Se fracassarem, caberá aos grandes partidos pensarem a sério sobre o que é possível fazer de renovação no sistema por dentro.
A falta de alternativas talvez dê a vitória a um político tradicional, ou a um dos grandes partidos. Mas isso não vai fazer o sistema parar de vazar legitimidade. Nessa situação, será um erro grosseiro se as lideranças políticas brasileiras acreditarem que a febre causada pela Lava Jato passou. O termômetro é que terá sido bastante avacalhado.
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Celso Rocha de Barros doutor em sociologia pela Universidade de Oxford.
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