quinta-feira, 24 de outubro de 2019

Ricardo Noblat - Uma esfinge chamada Rosa

- Blog do Noblat | Veja

A sorte de Lula depende dela
Ao sintonizarem, ontem, os canais de televisão que transmitiam a sessão do Supremo Tribunal Federal, os distraídos podem ter imaginado de início que assistiam a uma reprise de antigos julgamentos sobre a prisão de condenados pela segunda instância da Justiça. Os personagens eram os mesmos, os votos também.

A sessão foi suspensa com 3 votos pela manutenção da prisão em segunda instância contra 1. Será retomada esta tarde, mas só deverá ser concluída em novembro, em data ainda a ser marcada. Mas a sessão de logo mais servirá, quando nada, para que a ministra Rosa Weber, a esfinge do tribunal, leia o seu voto.

Os votos seguintes são previsíveis. O de Rosa é o único que não é. Primeiro porque ela é de pouca ou de nenhuma conversa com seus pares quando se trata de temas em julgamento. Segundo porque ela já votou uma vez favorável à prisão em segunda instância apesar de ser contra. Filigrana jurídica. Não vale a pena examinar.

Em resumo: a sorte da prisão em segunda instância está nas mãos de Rosa. O placar que outra vez se desenha é o de 6 a 5 – contra ou a favor da prisão em segunda instância. Lula terá de conter sua ansiedade e esperar mais algumas semanas para saber se será libertado ou se continuará mofando na cadeia.

Culto à personalidade de Toffoli

Um livro para falar bem dele
Quem do Poder Judiciário, convidado ou não, teria o desplante de faltar ao lançamento, ontem à noite, de um livro em homenagem ao ministro Dias Toffoli, presidente do Supremo Tribunal Federal? O comparecimento foi grande.

Foi o culto à personalidade mais escancarado que Brasília assistiu este ano. Toffoli celebra 10 anos como ministro. O livro reúne artigos de diferentes autores que analisam as principais decisões de Toffoli durante esse período. Uma louvação só.

O livro foi coordenado pelo ministro Alexandre de Moraes, companheiro de turma de Toffoli na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, em São Paulo, e o Advogado Geral da União, André Mendonça. Ambos pareciam felizes.

O local do lançamento foi o chamado Salão Branco do prédio do Supremo. Quem apareceu por lá para cumprimentar Toffoli e conseguir um autógrafo teve que passar por um aparelho de raio-X. Poucos se queixaram. Quem se queixou não revelou seu nome.

A segurança no prédio foi reforçada depois que Rodrigo Janot, ex-Procurador-Geral da República, disse que um dia entrou ali armado para matar o ministro Gilmar Mendes. Arrependeu-se quando estava com o dedo no gatilho do revólver.

Reprovado duas vezes em concurso para juiz de primeiro grau, sem ter feito doutorado ou mestrado nem escrito livro nenhum, Toffoli chegou ao Supremo por indicação de Lula, para quem advogou. Seu mandato como presidente termina no próximo ano.

Do que a família Bolsonaro tem mais medo

Rabo preso
De repente, não mais do que de repente, incomodado com a CPI das Fake News na Câmara que deverá convocá-lo para depor, o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), o Zero Dois do presidente da República, se fez arauto da liberdade de expressão e escreveu no Twitter:
Boa! Oposição? Vamos lá falar umas verdades a esses porcarias.

Fora a guerra interna do PSL, deflagrada pelo presidente Jair Bolsonaro que tenta se apossar da chave do caixa milionário do partido, nada incomoda mais a nova família imperial brasileira do que a CPI que investiga a produção de falsas notícias. Cada um sabe onde tem o rabo preso.

Incompreensível, observam com ironia os desafetos dos Bolsonaros. Eles sempre negaram a produção e distribuição de notícias falsas pelas redes sociais, não foi? Jamais assumiram a autoria de uma só delas. Por que então estrebucham desesperados na maca? Têm medo do quê?

O frustrado embaixador que foi sem nunca ter sido, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), o Zero Três, suou a camisa como um condenado para impedir a instalação da CPI. Pintou e bordou. Acabou derrotado. É de se ver se como líder do PSL será mais bem sucedido. Improvável. Como líder, ele é um bom atleta.

A deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), ex-líder do governo no Congresso, destituída do cargo pelo presidente da República, diz ter como provar a existência de uma milícia virtual, paga com dinheiro público, que produz notícias falsas de dentro do Palácio do Planalto. O tal do gabinete do ódio.

Estranho que só agora ela tenha descoberto isso. Hasselmann foi convidada para depor na CPI, bem como o Delegado Waldir, ex-líder do PSL na Câmara, e outra vítima do expurgo em curso dentro do partido sob o patrocínio dos Bolsonaros. É bom ter cuidado com essa gente que promete e depois recua.

Se a CPI for fundo de fato na apuração, poderá até não encontrar as digitais dos garotos e do seu pai nas falsas notícias que atingem a reputação de pessoas e de instituições que se opõem ou que simplesmente atrapalham os planos da família mais empoderada do país. Atrapalhar é suficiente para virar alvo.

Mas basta encontrar as digitais dos responsáveis pelo crime, e estabelecer a ligação entre eles e os Bolsonaros, para desatar uma crise política de grandes proporções com cheiro de impeachment e capaz de ameaçar a sobrevivência do governo. É o que teme a sagrada família. É o que pode vir a acontecer.

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