quarta-feira, 8 de abril de 2020

Vinicius Torres Freire – Economia depende de testes de coronavírus

- Folha de S. Paulo

Ainda não há esforço nacional coordenado para fazer caçada ao vírus e, assim, reabrir negócios

O número de testes de Covid-19 é uma das estatísticas econômicas mais importantes da epidemia. Econômicas? Sim, também. Mas não temos esses dados e não sabemos bem o que está sendo feito para produzir testes e resultados.

Como todo leitor de jornal já deve saber, sem testes em massa não haverá dados precisos para planejar o combate ao espalhamento da doença e não saberemos como, quando, em que ritmo e onde reabrir a economia com segurança.

A fim de repetir a experiência bem-sucedida da Coreia do Sul, por exemplo, precisaríamos fazer pelo menos 1,6 milhões de testes. Do governo federal, saiu mais ou menos um terço disso, mas não se sabe o que foi feito com eles. Nos estados, laboratórios e hospitais particulares fazem os seus, a rede pública também. Quantos?

O caso da Coreia do Sul é mesmo apenas um meio de dar a ordem de grandeza do problema. Não sabemos se precisaremos de ainda mais testes, pois a epidemia parece se espalhar com mais rapidez no Brasil.

Não se trata de fetichismo numérico. Trata-se de contar e produzir munição contra o corona. Hospitais fazem testes porque estão na frente de guerra, tentando saber que tratamento dar a cada doente —muitas vezes, não acertam logo o tratamento mais eficaz por não saberem exatamente com o que estão lidando, por falta e atraso de testes.

Mas seria preciso haver um plano para ajudar o pessoal da saúde, nos hospitais e fora deles. Isto é, testes para rastrear contatos de doentes, o caminho do vírus, de modo a isolar seus potenciais transmissores.

Quer dizer, além de testes, seria preciso uma coordenação entre governo federal e estados, diretrizes comuns, médicos e cientistas de dados para pensar a distribuição dos recursos, agentes de saúde para executar o plano. Onde está o pessoal do Programa Saúde da Família e seus médicos, vítimas da demência teratológica do governo federal?

O problema é criar condições financeiras, logísticas e técnicas para fazer testes em massa. Algumas providências foram tomadas para aumentar a produção de ventiladores respiratórios, sem os quais os doentes graves de Covid-19 morrerão.

Não sabemos quantos testes temos, quantos poderemos comprar e produzir. O Ministério da Saúde não sabe quantos testes já foram feitos. O governo federal ainda não consegue dizer o que está sendo feito para aumentar a produção e a compra de testes e o aumento da capacidade de análise de resultado (gente, máquinas, insumos para laboratórios).

Também não sabe dizer se, na eventualidade de haver testes em massa, também haverá capacidade de realiza-los sem aglomeração infecciosa e laboratórios e gente capacitada em quantidade para processá-los.

Em São Paulo, tem havido mais rapidez no aumento da produção de testes e na capacidade de processá-los, com certificação de mais laboratórios.

Além do mais, em breve serão feitos testes por amostragem em quase 100 mil pessoas, iniciativa de pesquisadores da Universidade Federal de Pelotas e de uma rede de epidemiologistas. Vamos saber a porcentagem da população contaminada e a progressão quinzenal da epidemia. É informação crucial para o planejamento, mas é outra história. Faltam testes bastantes para fundamentar uma caçada ao vírus.

A situação se torna mais desesperada porque o indivíduo que ocupa a cadeira de presidente e seu bunker dedicam-se a sabotar o Ministério da Saúde e qualquer esforço racional para conter a epidemia.

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