Por Bruno Rosa – O Globo
Combinar linhas de crédito com recursos públicos e máquinas de pagamento — modelo já avaliado pelo governo — pode ser a saída para socorrer pequenas e médias empresas na crise atual, diz o economista Arminio Fraga, ex-presidente do Banco Central (BC) e sócio-fundador da Gávea Investimentos. Ele frisa, porém, que iniciativas para ajudar esses empreendedores têm de sair do papel de imediato.
• Por que as pequenas e médias empresas são mais vulneráveis?
Porque têm pouco capital e margens pequenas. A maioria não tem acesso a crédito e agora muitas dependem de contato pessoal. Então, a perda de receita em um número grande de empresas é enorme, chega a 80% ou 100%. Não é o que se costuma ver em uma recessão. Alguns são obrigados a fechar.
• Quais iniciativas podem dar maior fôlego aos empreendedores?
Minha sugestão é combinar dinheiro público e maquininhas. Dinheiro público porque não é razoável que um banco aja para fazer um empréstimo que tenha valor esperado negativo. A última coisa que se quer nesse momento é uma crise bancária. O governo poderia correr esse risco. E tem anunciado que pretende usar as maquininhas. O desenho que está sendo considerado, e foi o que o setor apresentou, é parecido com o do crédito consignado, pois os fluxos de pagamento das empresas passam pelas credenciadoras. A proposta é que o dinheiro público corra o risco e as maquininhas executem a operação. Isso permitirá ganhar velocidade.
• Como funcionaria esse modelo?
É um consignado baseado em desempenho. É o que deveria ser, na minha opinião. Fazer uma vinculação ao faturamento é extremamente promissor e algo positivo do ponto de vista de um desenho de uma política pública. Pode até ter uma divisão de risco. Se a receita voltar muito firme, adianta o pagamento.
• Não seria proposta já atrasada?
Não entendo por que isso não foi feito ainda. É uma reclamação enorme dos pequenos, de que o dinheiro não está chegando. Isso requer reflexão. Alguém tem que ir fundo nos detalhes. A ideia lá atrás era pegar um empréstimo para uma empresa que era viável antes da crise. Mas há casos como um restaurante fechado que não vai abrir. Será que essa é a ajuda certa? Ou ajudar a todos os funcionários para eles entrarem na assistência dos R$ 600 ou do seguro-desemprego?
• E qual seria a solução?
No caso limite em que a empresa foi forçada a fechar, talvez, a solução seja, sim, o crédito. Mas quanto? Tem gente no Brasil que acha que é só imprimir dinheiro. Isso é uma sandice. É uma receita perigosa, um remédio que, se você errar na dose, gera problema.
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