terça-feira, 7 de julho de 2020

Bernardo Mello Franco - Moro em campanha

- O Globo

Depois de romper com Bolsonaro, Sergio Moro tenta se manter vivo na arena política. Ele fala como candidato e investe na comparação entre o ex-chefe e o PT

Sergio Moro está em campanha. Fora do governo, o ex-ministro busca um novo figurino para se manter na arena política. Fala como candidato, ainda que não admita com todas as letras que concorrerá ao Planalto.

No domingo, o ex-juiz ofereceu uma prévia de seu discurso eleitoral. Em entrevista à GloboNews, ele investiu na estratégia de comparar Jair Bolsonaro ao PT. Acusou o presidente de negar a pandemia e o petismo de negar os escândalos de corrupção.

No vale dos insensatos, Moro despontaria como o cavaleiro da racionalidade e da moderação. O tempo vai dizer se cola. Em 2018, Geraldo Alckmin apostou na retórica dos dois extremos e terminou em quarto, com 4,7% dos votos.

Sem partido, o ex-ministro guarda alguns trunfos. Tem um fã clube particular, não carrega o desgaste do PSDB e ainda pode contar com os louros da Lava-Jato. No entanto, é difícil saber como estará a imagem da operação em 2022.

Na semana passada, descobriu-se mais um truque da força-tarefa de Curitiba. Os procuradores esconderam os sobrenomes dos presidente da Câmara e do Senado em uma denúncia. O objetivo era driblar o Supremo Tribunal Federal e manter o caso na primeira instância.

Em outra frente, a Agência Pública revelou indícios de ilegalidade numa tabelinha da Lava-Jato com o FBI. O procurador Deltan Dallagnol disse que os contatos com a PF americana foram “legítimos” e “lícitos”.

Na entrevista à GloboNews, Moro cometeu um ato falho. Descreveu a audiência mais famosa da operação como “um ringue com o Lula”. A metáfora sugere que ele e o ex-presidente se enfrentaram como dois pugilistas. Faltou dizer que ele acumulava o papel de juiz.

Ao comentar o cenário eleitoral, o ex-ministro se referiu a João Doria, Luciano Huck e Luiz Henrique Mandetta como “bons nomes”. “São políticos de centro-direita, né? Eu tenho mais afinidade com essa visão”, disse. “Mas ninguém sabe como vai ser 2022, quem vai ser candidato e quem não vai ser”, acrescentou.

Questionado se estará no páreo, ele tentou desconversar: “O que posso assegurar apenas é que eu pretendo continuar no debate público”.

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