Paulo
Guedes perdeu a aura de superministro, mas continua a ser o homem
certo para o cargo que ocupa. Nenhum outro economista espelharia tão bem os
valores e princípios do bolsonarismo. Ou a ausência deles.
Em dois anos
e quatro meses no poder, Guedes já ofendeu mulheres, servidores públicos e
pobres em geral. A lista de insultos voltou a crescer na terça-feira, em
reunião do Conselho de Saúde Complementar.
Sem saber que estava sendo gravado, o ministro disse que “o chinês inventou o vírus, e a vacina dele é menos efetiva do que a americana”. A frase criou um novo atrito diplomático com o maior parceiro comercial do Brasil.
Guedes
também reclamou do envelhecimento da população, um fato que deveria ser
comemorado. “Todo mundo quer viver cem anos”, resmungou, acrescentando que não
haveria como atender a todos no setor público.
A queixa
revela desprezo pelos idosos mais pobres e insensibilidade com o morticínio no
país. Um estudo de Harvard mostrou que a pandemia reduziu a expectativa de vida
dos brasileiros em quase dois anos.
O
ministro não pode culpar a câmera indiscreta pelo seu festival de preconceitos.
Em eventos públicos, ele já fez coisas como chamar servidores de “parasitas” e
dizer que a primeira-dama da França “é feia mesmo”.
Em outra
palestra, apontou o que via como efeito indesejado do dólar baixo: “Empregada doméstica indo
para Disneylândia, uma festa danada”. Ele sugeriu que as trabalhadoras deveriam
se contentar com passeios mais modestos: “Vai para Cachoeiro do Itapemirim, vai
conhecer onde o Roberto Carlos nasceu”.
Na
reunião de terça, Guedes reclamou que o Fies bancou a faculdade de “filho de porteiro” que tirou zero no vestibular. A história é
inverossímil porque o programa exige nota mínima para conceder bolsas. Mas a
mentira não é o pior da fala ministerial.
Em
novembro, o jornal “El País” entrevistou Gabriella Juvenal Figueiredo,
mestranda em história da arte na Espanha. Filha de um porteiro e uma doméstica,
ela relatou uma vida de discriminação por estudar entre jovens da elite.
“Infelizmente, tive de aprender a sobreviver ao lado dessas pessoas que te
olham por cima do ombro”, disse.
Ao contar o que enfrentou, Gabriella resumiu os valores de Guedes.
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