Bolsonaro
tem razão em não ligar para livros
Paulo Guedes,
ministro-bufo de Jair Bolsonaro encarregado dos esquetes sobre economia, disse
que "livro é coisa de rico". E, como sempre, desafinou. Bolsonaro,
por exemplo, é rico e não gosta de livros. O último que teve em mãos foi no dia
de sua posse —um exemplar da Constituição, que ele jurou defender, mas nunca
abriu e na qual cospe com regularidade.
Bolsonaro tem razão em não ligar para livros. Não só porque lê com dificuldade, acompanhando as linhas com a cabeça e tropeçando nas palavras quebradas, mas porque construiu seu patrimônio sem precisar deles, valendo-se apenas do salário de deputado e, dizem, do de seus servidores. A estante ao fundo em seus pronunciamentos no Planalto é cenográfica, com livros comprados a metro. Às vezes variam a cor das lombadas para combinar com sua gravata. Um brincalhão poderia rechear as prateleiras com as obras completas de Karl Marx e Bolsonaro não perceberia.
Esse
brincalhão poderia ser Paulo Guedes. Numa trupe de momos como Abraham
Weintraub, Ernesto Araújo e Eduardo Pazuello, era difícil notá-lo no picadeiro.
À medida que eles foram sendo defenestrados, Guedes saltou para o centro da
lona e nunca mais perdeu uma oportunidade de ficar calado. Exprobou as
domésticas por irem à Disney, tachou os servidores públicos de parasitas,
acusou os pobres de destruir o meio ambiente e ainda os condenou por não
saberem poupar e só pensarem em consumir.
Como o
show não pode parar, Guedes há pouco criticou o brasileiro por "querer
viver 100, 120, 130 anos" e sobrecarregar a Previdência. Deu mais uma
cotovelada na China, acusando-a de ter inventado o vírus e vender uma vacina de
segunda. E avisou o IBGE que não lhe mandaria dinheiro para fazer o Censo
porque "quem muito pergunta ouve o que não quer".
Está certo. Imagine se, em meio ao espetáculo, alguém perguntar ao público se estão gostando do palhaço.
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