Há 13
meses, nós, brasileiros, contamos cadáveres. Fazemos isso com as estatísticas
dos mortos por Covid-19 e no seio de nossas famílias e círculos de amizade. Não
precisava ser desta maneira. Muitos dos 400 mil “CPFs cancelados” na pandemia,
no linguajar chulo e desrespeitoso chancelado pelo presidente da República,
poderiam estar ativos se tivéssemos um governo decente. Não digo nem competente
ou eficiente. É um mínimo de decência que falta a Jair Bolsonaro e a seu
escrete mortífero.
O que fazer para atenuar essa rotina de empilhar corpos, retroceder em todas as áreas da vida nacional, adiar o futuro e colecionar traumas? É preciso agir imediatamente, em todas as frentes possíveis. É preciso responsabilizar Bolsonaro, Eduardo Pazuello e a cadeia de comando de ambos em todas as pastas que tenham contribuído, por ação e omissão, para atrasar nossa resposta ao vírus e desmontar nossa estratégia de enfrentamento.
O
Sistema Único de Saúde, a despeito de seus problemas crônicos de financiamento
e atendimento, tem capilaridade única no mundo, experiência em lidar com
epidemias e profissionais de saúde pública treinados, que estão mostrando,
mesmo diante de toda a adversidade, abnegação, garra, fibra e compromisso com a
vida.
O Plano
Nacional de Imunização é um edifício de glórias para o Brasil, que nos fez
erradicar doenças ao longo de décadas e mostra incrível capacidade de realizar
campanhas de imunização em massa.
Obrigar
os responsáveis pelo mau uso do SUS e o desmonte do PNI a responder na Justiça
é algo para já. Pode ser feito pelo inquérito conduzido no Supremo Tribunal
Federal e pela CPI da Covid. Ambos têm instrumentos para solicitar documentos,
perícias, levantar gastos, ouvir a cadeia de servidores do Ministério da Saúde,
estados e municípios e apontar quem são os CPFs que têm de virar réus. Isso é
tarefa de agora, não de depois, senhores Arthur Lira e Rodrigo Pacheco. Se
Vossas Excelências acharam que poderiam postergar uma resposta ao morticínio de
brasileiros aos milhares, enquanto negociam suas emendas e projetos de
interesse de pequenos grupos, só por terem ascendido ao comando do Congresso
com o apoio do Planalto, a resposta é não.
Além de
responsabilização, é preciso exigir de Bolsonaro, enquanto ele continua
ocupando a Presidência como o pior ser humano, eleito ou biônico, que já passou
por lá, que pare de cometer desatinos retóricos e administrativos diários e
cumpra seu dever constitucional de proteger a vida de seus concidadãos.
Isso
significa destinar todos os recursos — orçamentários, diplomáticos, de
logística, administrativos e políticos — para a compra imediata de vacinas em
quantidade suficiente para imunizar ao menos 70% da população apta a
recebê-las. Para isso, o Ministério da Saúde tem de ser instado (pelo
Congresso, pelo Supremo) a fornecer um calendário realista de chegada de
vacinas, distribuição e aplicação. Isso não pode ficar para 2022. Para isso
existe a Justiça, para isso existe um Congresso que tem de estar disposto a
votar recursos emergenciais para a compra de imunizantes.
A terceira frente de ação cabe à sociedade. Não é compreensível a letargia com que, a cada número redondo de pessoas que se foram, colocamos tarjas pretas em nossos perfis nas redes sociais e seguimos, entre negacionistas, meio comprometidos com as medidas sanitárias ou discípulos do Átila, mas sem exercer nosso dever cívico de dar um basta a essa gestão desastrosa, única no mundo em sua conjugação de pestilência verbal, inação administrativa e incompreensão histórica do que se passa no planeta. Até quando assistiremos a esse horror e admitiremos que o presidente siga em marcha batida ao precipício, levando cada um de nós de carona?
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