É pouco
provável que haja tranquilidade política para a aprovação de projetos
complexos, como as reformas
Não
falta quem nutra a fantasia de que, nos próximos meses, antes da completa
mobilização de Brasília com as eleições de 2022, ainda haverá uma janela de
tranquilidade política que permitirá engajamento efetivo do Congresso no avanço
do programa de reformas. O mais provável, contudo, é que o paralisante clima de
alta tensão política que hoje se vê no País perdure por muitos meses mais.
Com base em longo histórico de CPIs criadas com grande estardalhaço e que acabaram dando em nada, vem sendo arguido, agora, que a recém-instalada CPI da Pandemia pode perfeitamente se revelar um completo fiasco. Mas a verdade é que as peculiaridades dessa CPI tornam pouco crível o prognóstico de que, mais uma vez, a montanha acabará por parir um rato.
É
preciso ter em conta que nesse momento dramático da evolução da pandemia e de
indignação generalizada, com as proporções da devastação e a lentidão com que
avança a vacinação, o objeto do inquérito permanecerá sendo uma questão
crucial, de fácil entendimento, na qual a grande maioria da população terá grande
interesse.
É bom
também ter em mente que, tendo se permitido desmandos de toda ordem no
enfrentamento da pandemia, o governo já não consegue esconder seu alarme com a
instalação da CPI e com os danos políticos que dela poderão advir. E que, ao se
deixar levar por reações completamente destrambelhadas, vem garantindo à CPI
uma caixa de ressonância de enorme potência que, a mídia, por si só, jamais
conseguiria replicar.
Contando
com não mais que quatro senadores governistas, entre os 11 membros da Comissão
Parlamentar de Inquérito, o Planalto não teve melhor ideia do que conseguir que
um juiz federal de primeira instância concedesse grotesca liminar, determinando
ao Senado que não permitisse que o senador Renan Calheiros fosse “eleito”
relator da CPI, quando, de fato, a escolha do relator não é feita por eleição,
mas pelo presidente da Comissão.
Ao ver a
liminar solenemente ignorada, o senador Flávio Bolsonaro voltou suas baterias
contra o presidente do Senado, acusando-o de irresponsabilidade e “ingratidão”,
por ter acatado a decisão do Supremo que determinava a criação da CPI e
desacatado a do juiz de primeira instância que impedia a “eleição” do relator.
Na
situação em que está, não será com hostilização ostensiva do presidente do
Senado e do relator da CPI que o Planalto conseguirá conter os danos políticos
que a comissão de inquérito poderá lhe trazer.
Entre as
reações desastradas à instalação da CPI, merece também destaque a impensada
divulgação, pela “sala de guerra” montada no Planalto, de longa lista de nada
menos que 23 flancos distintos pelos quais a postura do governo durante a
pandemia poderia vir a sofrer censura na CPI.
Com
justa razão, a lista foi logo vista no Senado como um roteiro de confissões de
culpa no qual a comissão de inquérito poderia se basear, de início, para
organizar o trabalho que tem pela frente.
Tudo
indica que, ao longo dos próximos meses, a relação entre o Planalto e o
Congresso estará dominada pelos atritos advindos da CPI. A composição da
Comissão deixou mais do que claro o caráter flagrantemente minoritário do apoio
parlamentar efetivo com que conta o governo.
Tendo
isso em mente, alguém acredita mesmo que, a 17 meses das eleições de 2022, o
Planalto terá condições de conduzir com um mínimo de sucesso a aprovação de
reformas econômicas complexas no Congresso?
É dessa
perspectiva que se deve avaliar a pretensão do presidente da Câmara, Arthur
Lira, de retomar o esforço de aprovação, ainda que fatiada, da reforma
tributária. Entre as muitas razões para ceticismo, não se pode deixar de
mencionar que esta é uma agenda sobre a qual o governo tem mantido posições
especialmente confusas.
É difícil que, logo agora, com o Ministério da Economia fragilizado, e já privado da colaboração da competente Vanessa Canado, o governo consiga se livrar das suas confusões e dar coerência a uma discussão séria sobre reforma tributária no Congresso.
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