A
maioria da CPI vai trabalhar para a produção de provas, usando os depoimentos, mas
principalmente a busca de documentos. A ideia que eu ouvi de senadores é que o
tempo está a favor da CPI porque, a cada dia, o próprio governo fornece mais
indícios com suas falas e trapalhadas. O grupo governista já tem uma divisão,
apenas três assinaram ontem o mandado de segurança impetrado contra a relatoria
de Renan Calheiros. A estratégia oficial tem sido insistir nessa briga, acusar
governadores, defender a ida de médicos que prescrevem remédios ineficazes.
Isso alimenta a milícia digital, mas não tem resultado prático e jurídico.
Há um “pacto do foco”, me explicou um dos senadores com os quais conversei. E o foco está sobre as ações e omissões do governo federal nesta pandemia, como diz o fato determinado. Houve pelo menos 11 oportunidades de compra de vacina que o governo desperdiçou, há inúmeros indícios de prevaricação e negligência na gestão da pandemia que já se aproxima de 400 mil mortos. Há até a atitude do presidente, um governante que nunca visitou um hospital e tratou de forma desumana o sofrimento do país. “Vamos parar com mimimi, vão ficar chorando até quando?” Existe uma coleção interminável de falas absurdas, mas também dados concretos sobre erros e omissões.
O
governo adiou a compra de vacinas e as desqualificou. Como acaba de ser
repetido pelo ministro da Economia em relação à coronavac. Há informações de
que no kit intubação houve um movimento do governo para compra através da
Organização Pan-Americana de Saúde (Opas). Só que ele poderia comprar até US$
40 milhões, mas reduziu, deliberadamente, o total das aquisições para algo como
US$ 2 milhões. Existem dados concretos das despesas do governo em remédio com
ineficácia comprovada. Mesmo que os senadores governistas sustentem a tese de
que esses remédios do “tratamento precoce” são uma liberdade do médico, não há
justificativa para fazer com eles uma política pública, se nenhum outro país
fez isso.
—
Quais são as armas da CPI? Os fatos — diz um dos senadores.
A
linha governista desenhada até agora é amadora, na definição de um dos
senadores. O mandado de segurança que foi parar na mesa do ministro Ricardo
Lewandowski continua na linha de arguir a suspeição do senador Renan Calheiros
em abstrato. O impedimento só faz sentido diante de um fato concreto. Além
disso, eles devem repetir na sessão de hoje a estratégia de tumultuar, protelar
e empurrar a CPI sobre os governadores. Dificilmente vai funcionar. Alguns
senadores defendendo a tese de que se convide, por exemplo, o governador
Wellington Dias, coordenador do Fórum, ou que se requisite as informações dos
órgãos de controle sobre os repasses, mas a maioria da CPI está determinada a
não perder o foco.
Entre
o grupo majoritário, dos independentes e oposicionistas, há diferença de
abordagem. Alguns defendem que haja sub-relatorias, outros acham que isso só
dispersa. Alguns preferem o caminho mais técnico e sóbrio para o início dos
trabalhos, outros são mais políticos. Mas todos estão preparados para as
estratégias que os governistas podem usar. Alguns dos senadores na comissão são
políticos experientes e dificilmente se deixariam enrolar, como Renan
Calheiros, Omar Aziz, Otto Alencar e Tasso Jereissati.
Entre
os governistas, o senador Ciro Nogueira fez alguns movimentos de se separar dos
outros três. Ciro Nogueira já foi da base de sustentação de governos petistas e
começa a ser hostilizado nas milícias bolsonaristas, acusado de traidor. Ele
votou em Omar Aziz e não assinou o mandado de segurança. Ele é do centrão, está
fazendo as contas de para onde sopra o vento.
Os
governistas também vão tentar desqualificar os depoentes que falarem algo
contra o governo. Isso não confunde, por exemplo, uma pessoa como o ex-ministro
Mandetta, que está sendo alvo dos bolsonaristas.
Em resumo, o clima na CPI é de definição de estratégia. Hoje, Renan Calheiros apresenta o plano de trabalho e haverá o requerimento para a convocação dos três ex-ministros da Saúde e do atual titular da pasta. Os governistas preparam seu espetáculo. Vão fazer barulho. Mas o fato é que, como definiu um experiente senador, “o governo está assombrado”. Outro me disse que “o tempo está a favor de quem quer investigar.”
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