Folha de S. Paulo
Demanda das ruas em 2013 já trazia
necessidade de políticas sociais de qualidade
Desde que assumiu, o presidente Lula acenou
mais de uma vez com a possibilidade de criar iniciativas voltadas para as
chamadas classes médias. Segundo ele, por não serem contempladas com políticas
públicas, acabam órfãs "de pai, mãe e governo".
Há bons motivos para que uma gestão
progressista focalize esse setor tão heterogêneo quanto eleitoralmente
importante. Afinal, parcela significativa dele se situa no campo antipetista,
muitos habitando rincões colonizados
pelo bolsonarismo.
Apropriadamente, Lula o citou ao falar do
programa habitacional Minha Casa,
Minha Vida. Ocorre que, se for mesmo levado a sério, o desafio
exigirá um conjunto de ações possíveis nas áreas econômica e social. A mais
óbvia consistirá em incorporar princípios de progressividade à reforma
tributária.
O governo terá de pensar também em abordar
as grandes políticas sociais —saúde e educação— não só do ângulo da cobertura
mas sobretudo da qualidade dos serviços oferecidos.
Subfinanciado, o SUS, eficaz na atenção básica à saúde, deixa a desejar quando seus beneficiários demandam serviços mais complexos. De seu lado, as escolas públicas, que atendem mais de 70% das crianças no ciclo fundamental, têm notórias falhas no ensino de habilidades básicas. Não por acaso, tão logo aumenta a renda da família, ela busca um seguro saúde privado e procura matricular suas crianças em escolas particulares.
Na babel de demandas que levaram milhares
às ruas em 2013, a aspiração por políticas sociais de qualidade foi expressa em
cartazes que pediam escolas e hospitais "padrão Fifa". Ainda assim, o
governo se enganará se acreditar que pode falar aos setores médios engajados no
antipetismo acenando apenas com promessas de bem-estar material e desprezando o
apelo a valores.
Na formulação do discurso mobilizador que
deu autoconfiança à direita e a colocou sob liderança dos mais extremados, a
denúncia da corrupção teve papel central —pouco importando se fidedigna ou
exagerada para fins políticos. A quem duvidar recomenda-se a
autocongratulatória série "A Direita no
Brasil", da produtora Brasil Paralelo.
Para os populistas de todos os matizes, o
fantasma da roubalheira serve ao propósito de corrosão da democracia
—oferecendo uma retórica desprovida de atos concretos. Já para os
progressistas, seu combate necessariamente implica a criação de mecanismos
institucionais que reduzam as oportunidades de que venha a ser praticada.
Para o governo da frente democrática, é
dimensão crucial do diálogo com os setores médios enredados no antipetismo.
*Professora titular aposentada de ciência
política da USP e pesquisadora do Cebrap.
2 comentários:
O antipetismo nos legou o bolsonarismo.
Não há qualquer perspectiva nessa área. O pacto político mais sólido que vigora em nosso país, envolvendo o Governo Federal, o Congresso, o STF e MPF, é o Acordão para blindar os políticos e livrar os condenados por corrupção da cadeia.
O lula sempre foi o primeiro interessado nisso e operou como biombo dos corruptos para sair da cadeia e poder alcançar o terceiro mandato.
Vivemos no país cujo lema, quase unânime, deveria ser ME ENGANA QUE EU GOSTO.
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