Folha de S. Paulo
É fundamental que operações de salvamento
não recompensem gestores incompetentes
Um mundo justo é aquele em que cada um
responde por suas ações e omissões. A definição não é despropositada, mas
receio que a maioria de nós não gostaria de viver num lugar assim. Nele,
pessoas que não tivessem poupado para aposentadoria seriam condenadas à miséria
na velhice; quem não tivesse plano de saúde morreria na porta do hospital.
Vivemos em sociedades que redistribuem riscos, por variados mecanismos.
No Brasil, temos o SUS, um sistema de saúde universal bancado com dinheiro dos impostos. Temos também o INSS e programas de governo voltados para populações específicas. Mais longe do âmbito do Estado, temos seguros, hedges etc.
Também entram aí os aportes bilionários que governos estão fazendo no sistema bancário. A ideia aqui é que, se houver crise sistêmica, todos perdem. O problema com a redistribuição de riscos é que ela altera o comportamento de agentes de um modo que nunca é moralmente neutro. Os primeiros economistas já se deram conta do fenômeno e o chamaram de "moral hazard" (risco moral).
Um exemplo clássico é o do sujeito que, por
ter contratado um seguro para seu carro, se torna menos cuidadoso e passa a
estacioná-lo em ruas perigosas sem trancar a porta. Tais mudanças de
comportamento podem afetar as taxas de sinistro, impondo custos extras a
segurados que não ficaram mais desleixados.
É por isso que os desenhos institucionais e contratuais importam. Um modo de desincentivar o descaso do segurado é a franquia, que faz com que ele arque com parte do prejuízo se o carro sofrer dano. No caso do resgate de bancos, é fundamental que as operações de salvamento não recompensem gestores incompetentes e que se minimize o estímulo à complacência de correntistas (se meus depósitos estão garantidos, nem me preocupo em procurar um banco sólido). Uma boa contrapartida aos resgates é a regulação mais rígida, mas ela nunca vem ou é rapidamente deixada de lado.
5 comentários:
Perfeito.
"Socialism for the rich, harsh individualism for the poor" Martin Luther King.
Interessante. Quer dizer que fumante não deveria ter direito a transplante pulmonar no SUS. Afinal, sabe que fumar faz mal e continua fumando, situação análoga ao cara que contrata seguro de auto e deixa a porta aberta. Gordo tb não deveria ter direito a cirurgia de estômago gratuita..
Muito abaixo do nível usual do colunista. Ele ignorou o risco de comparações pouco lógicas.
Então tá!
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