Correio Braziliense
Volto a escrever em outro jornal dos Diários
Associados, nos meus 94 anos de idade. Espero não me perder neste caminho de
volta. Estou feliz
O título deste artigo é uma frase que se
tornou célebre na década de 50, do meu antecessor na Cadeira 38 da Academia
Brasileira de Letras, que ocupo, José Américo de Almeida, grande romancista do
Nordeste, autor de A Bagaceira, livro que foi uma marca no conjunto de
escritores da região, um dos "búfalos" que Oswald de Andrade disse
que invadiram a Semana de Arte Moderna de 22, abafando-a na importância que
passaram a ter na história da literatura brasileira.
José Américo foi também candidato a presidente da República para as eleições de 1938, que não ocorreram devido ao golpe de Getúlio Vargas, em 1937, que resultou no período do Estado Novo.
Mas não é dessa volta que falo. É da minha
volta a escrever para os Diários Associados. No fim da década de 50, com 17
anos de idade, começara minha vida profissional como repórter de setor
policial, como todos começavam em jornal, no caso, em O Imparcial, dirigido
pelo meu querido amigo José Pires de Saboia, então o maior jornal do Maranhão,
pertencente à Chateaubriand.
O velho jornalista brincava comigo, toda vez
que me encontrava, dizendo que eu entrara em sua empresa por concurso, uma vez
que fizera uma reportagem para uma competição aberta por O Imparcial e obtivera
o 1º lugar com uma matéria sobre a Quinta do Barão de Bagé, num subúrbio de São
Luís.
Este ano, 2024, os Diários Associados
comemoram 100 anos. E eu, que comecei a carreira de jornalista num dos seus
jornais, aos 17 anos, volto a escrever em outro jornal dos Diários Associados,
nos meus 94 anos de idade, publicando às sextas-feiras o artigo que vinha
escrevendo no meu site, que era transcrito em muitos outros do Brasil. Espero
não me perder neste caminho de volta. Estou feliz.
Quando eu me elegi deputado, Chateaubriand me
disse, ao nos encontrarmos no aeroporto da Bahia, onde nossos aviões se
cruzaram: "Olhe, Sarney, diga ao Saboia para não dar baixa em sua carteira
no jornal. Daqui a pouco eles fecham essa Câmara e você vai voltar a ser meu
empregado."
Agora não sou mais nada. E o jornalista
Josemar Gimenez, atual presidente do Condomínio dos Diários Associados,
certamente não vai colocar um velho desempregado no olho da rua.
*Ex-presidente da República, escritor
e imortal da Academia Brasileira de Letras
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