sábado, 13 de dezembro de 2025

Meu estimado bandido. Por Alvaro Costa e Silva

Folha de S. Paulo

Acordo na Câmara tem a ver com emendas e campanha presidencial

Jogados aos leões, Glauber Braga e Carla Zambelli salvaram-se

Os embalos na Câmara são um primor de organização e não acontecem ao acaso ou de surpresa, como se quer dar a entender. Deles fica de fora a plebe ignara, pobres mortais que, por não terem pulseirinha vip, jamais poderiam se misturar com a nata em ambiente tão fino e conservador.

A coisa é preparada nos mínimos detalhes para se precipitar no momento oportuno, a tradição obrigando que o clímax seja atingido na alta madrugada. A sessão que aprovou o PL da Dosimetria, que reduz a pena de Bolsonaro e outros golpistas, terminou às quatro da manhã de quarta (10), um mês após a condenação do ex-presidente no STF.

Planejado com meses de antecedência, fruto da impostura ideológica e do conceito de "pacificação", o cambalache estava na agulha. O anúncio da candidatura de Flávio Bolsonaro à Presidência, que prejudica o governador de São Paulo como nome preferido para derrotar Lula em 2026, e a demora na liberação de emendas —sempre, e sob qualquer pretexto, a farra das emendas deve continuar— dispararam a bala da quase anistia.

Um tiro arriscado. Segundo o Datafolha, a maioria dos brasileiros considera a condenação de Bolsonaro justa. A possibilidade, no entanto, de o ex-presidente permanecer em regime fechado, ou em prisão domiciliar, por três anos, e não 27, enfraquece o efeito da vitimização e da perseguição nos debates eleitorais.

A costura da mutreta envolveu a antiga direita, nas figuras quase sepultadas de Michel Temer e Aécio Neves, os caciques do centrão Ciro Nogueira e Arthur Lira, a mais hidrófoba extrema direita representada pelo Partido Liberal e até alguns ministros do Supremo.

Por fim, de dentro de sua cela na Superintendência da Polícia Federal, o capitão deu OK. A expressão de xingamento nas redes —"bandido de estimação"— está perto de tornar-se oficial, só dependendo do Senado.

Um detalhe da tramoia deu errado. O gran finale previa duas cabeças rolando espetacularmente, as de Glauber Braga e Carla Zambelli. Os dois salvaram-se, no calor da orgia.

 

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