A Europa tem agido pouco e tarde para enfrentar sua crise e as janelas de oportunidade vão se fechando. Os governos, inclusive o brasileiro, se preparam para enfrentar a crise da maneira como ela apareceu da última vez, e esta pode ser diferente. Os mercados oscilam entre esperanças vãs e períodos de medo. Os ativos sobem e descem sem que haja explicação plausível.
O ouro, por exemplo, mudou de rumo e começou a cair de repente. Desde 2009 estava numa trajetória de alta que fez o preço da onça saltar de US$820, em janeiro daquele ano, para US$1.920 no início deste mês. Depois, começou a cair e ontem fechou em US$1.602. Não adianta perguntar aos economistas o que houve. Eles dizem que não sabem. A alta e queda dos ativos de bolsa, commodities, títulos de países, moedas nem sempre fazem sentido.
A crise de 2008 foi de liquidez, detonada por um evento que gerou pânico. Os governos injetaram trilhões de dólares para manter o mercado financeiro funcionando. Ninguém esperava que o Lehman Brothers quebrasse porque havia um acordo não escrito de que as maiores economias não deixariam que os bancos quebrassem. Desta vez, há liquidez abundante no mercado e o evento é mais do que esperado.
- A crise de 2008, com a quebra do Lehman Brothers, teve um componente muito forte do inesperado. Ninguém contava que aquele banco pudesse quebrar. No caso da Grécia, todo mundo está acompanhando o que está acontecendo e o mais importante não é "se" mas "quando" ela vai quebrar. Outra diferença é que a quebra do Lehman provocou um colapso do crédito porque não se sabia quais seriam os bancos que absorveriam o prejuízo. Agora já se sabe, em caso de reestruturação da dívida grega, quais bancos estão expostos - diz Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central.
O mês de setembro foi todo de espera de um evento salvador. A solução viria na reunião do Fed, ou no encontro do G-20, ou na reunião anual do FMI-Banco Mundial. Nada resolveu. O Fed decidiu pela operação de compra de títulos de curto prazo e venda de longo prazo - a operação twist - para manter as taxas de juros baixas por mais tempo. A reunião do G-20 disse que os países trabalhariam de forma coordenada. O FMI divulgou um comunicado em que garante que os países concordaram "em agir decisivamente para enfrentar os perigos que ameaçam a economia mundial."
De concreto mesmo, tudo o que a diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, disse é que o acordo feito em julho pela Zona do Euro será implementado. Esse acordo estabeleceu a ampliação do Fundo de Estabilização e o socorro à Grécia. Mas tudo na Europa é bem devagarzinho. São 17 países e todas as decisões têm que ser aprovadas pelos parlamentos. Até agora, seis países aprovaram, e esta semana ele será votado na Eslovênia, hoje, na Finlândia, amanhã, e na Alemanha, quinta-feira. Mas o que interessa é a Alemanha. Todos estão de olho. Até meados de outubro todos os países têm que ter aprovado.
Mas aí será uma grande conquista? Não. Estão todos falando que agora é preciso ampliar ainda mais o Fundo de Estabilização de 400 bilhões. E no fim de semana circularam informações de que os governos negociam a formação de um "escudo" de 2 trilhões. Há um mês, se eles tivessem elevado de 400 bi para 1 trilhão seria uma demonstração suficiente. É assim, sempre atrasada, que a Europa tem caminhado.
Agora o mercado sonha que uma solução "definitiva" virá quando de novo se reunir, no meio de novembro, o G-20. Por enquanto os ativos sobem e descem de forma aleatória. Antes o ouro subia para se proteger contra a crise do euro e a queda do dólar; agora cai o ouro e sobe o dólar. A moeda americana subiu 7,5% contra o euro em 30 dias. A explicação para a alta do ouro era que o mercado procurava um refúgio, agora é que a alta do dólar é "fuga para a qualidade".
Quando será o calote grego? Uma situação terminal em economia pode se arrastar por anos ou se precipitar. A crise de 2008 foi precipitada pela quebra do Lehman Brothers. Mas a Argentina adiou por dois anos e meio sua moratória.
- A Europa vai adiando o desfecho da Grécia enquanto pode, para tentar proteger os bancos e para que a Grécia consiga ajustar um pouco suas contas públicas - diz Schwartsman.
Só que quanto mais a solução inevitável é adiada mais cara ela fica.
FONTE: O GLOBO
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