O PSDB perdeu três eleições presidenciais consecutivas, mas aumentou percentualmente sua participação no eleitorado nacional.
Ainda assim, a tendência é que os tucanos não alcancem o número de votos necessários para voltar a ocupar o Palácio do Planalto, nas eleições de 2014, mantida a taxa de crescimento do partido nas eleições para presidente da República realizadas desde 2002, a primeira vencida pelo Partido dos Trabalhadores.
Essa é uma das conclusões a que chegou a pesquisa encomendada pelo PSDB ao sociólogo Antonio Lavareda, que deve servir de parâmetro para os tucanos em seu processo de reestruturação partidária. O PSDB já marcou para o fim de outubro a realização de um congresso nacional para dar a partida no projeto 2012. O objetivo é começar a reestruturação pelas bases municipais, em declínio desde 2000. E a meta é a eleição de mil prefeitos.
Se o número de votos válidos nos candidatos a presidente do PSDB cresceu a cada eleição, desde 2002, muito embora os tucanos tenham perdido as três, a base municipal teve uma trajetória inversa. O número de votos válidos (e de prefeitos) do PSDB diminuiu depois da eleição de 2004, a última em que pode contar com os benefícios de ter sido governo entre 1995 e 2003.
Para presidente, o percentual dos votos válidos dos candidatos tucanos foi 38,7% (2002), 39,2% (2006) e 43,9% (2010). Nessa toada, a tendência é que o candidato tucano, nas eleições presidenciais de 2014, fique com 45,8% dos votos válidos. Ou seja, um percentual ainda insuficiente para tirar o PT do Planalto.
Para prefeito, a tendência é de declínio. Em 2004, o PSDB teve 16,5% dos votos válidos, percentual que, em 2008, caiu para 14,6%. Nesse ritmo, a projeção é que os tucanos cheguem às eleições municipais do próximo ano com 14,3% dos votos válidos, segundo o estudo de Lavareda. Atualmente, são 793 prefeitos. Eles já foram 990.
Para interromper e alterar essa tendência, o deputado Sérgio Guerra, presidente nacional do PSDB, propõe uma "mudança de rumos" tanto no padrão de organização como no padrão de comunicação dos tucanos. A base seria o trabalho de Lavareda - além das pesquisas quantitativa e qualitativa, foram realizadas entrevistas com mais de 30 líderes tucanos. "Ganhamos eleitoralmente, mas não ganhamos um discurso político", diz Sérgio Guerra.
Pernambucano, 63 anos, economista por formação, o deputado Sérgio Guerra foi reeleito para a presidência do PSDB no contexto de uma nova maioria, entre os tucanos, na qual a pré-candidatura presidencial do senador Aécio Neves (MG) é majoritária.
Guerra quer mudar o jeito de ser tucano. "É preciso mudar nosso vocabulário, que é hermético, nos expandirmos na nova mídia", diz, referindo-se à internet, na qual os tucanos apanham feio do PT, segundo Guerra. "Vamos abrir o PSDB, a nossa imagem é a de partido de caciques, de cúpula". A proposta de Guerra é o PSDB reconstruir a base municipal em declínio, apropriar-se dos créditos das realizações dos oito anos em que esteve no governo e se fazer compreendido pelo eleitorado.
"O PSDB não consegue se fazer compreendido. O PT e o PV são mais compreendidos em sua natureza do que o PSDB", diz Guerra. Segundo a pesquisa de Lavareda, 72% dos entrevistados sabem o que significa a sigla PT, enquanto outros 59% não têm dificuldades para associar imediatamente o PV aos verdes e às questões ambientais. Apenas 28% reconhecem a sigla PSDB.
No universo pesquisado, 69% fizeram uma avaliação positiva do conceito "Social-Democracia", mas ele não é relacionado aos tucanos. "O Brasil não tem a noção de que nós somos o partido da social-democracia", diz Sérgio Guerra. "É preciso que nossos atributos sejam reconhecidos. O PSDB deve se projetar para o futuro, mas precisa ter uma trajetória reconhecida como tal: o que fizemos, quem nós somos".
"Cometemos um erro, nossas marcas não foram apropriadas pelo PSDB", diz Guerra, tomando o cuidado de não fazer recriminações. "Ao longo dos anos foi se firmando no meio do povo que as coisas boas tinham origem no PT", especula, antes de citar um exemplo concreto: os medicamentos genéricos, criação de José Serra, quando ministro da Saúde, que 40% da população credita ao governo Fernando Henrique Cardoso e outros 40% ao governo Lula.
Guerra traz o exemplo na ponta de língua - trata-se de um afago em José Serra, adversário que tanto ele como Aécio Neves preferem próximo a ter como inimigo nas eleições de 2014. Mas a pesquisa de Lavareda revela outros dados interessantes sobre a percepção que a opinião pública tem dos governos tucano e petista. Hoje, 66% dão o crédito a FHC pelo Plano Real, enquanto 17% o atribuem a Lula. O saldo é de 49 em favor do PSDB. Mas quando se fala do Bolsa Família, o saldo pró-Lula é de 60 (75% a 15%). Presidente, FHC sempre reclamou que o PSDB não batia bumbo para os feitos do governo.
O diagnóstico de Lavareda aponta a correlação entre percentuais de voto e mostra como é forte a influência que a eleição de prefeitos tem na eleição de deputados federais. Daí o investimento a ser feito em 2012: a eleição da bancada na Câmara, dois anos depois, é que define o tempo de televisão do partido e sua cota no fundo partidário.
Desde 1998, quando o PSDB reelegeu FHC e fez uma bancada 99 deputados, a representação do partido, a exemplo do que ocorreu com o número de prefeituras, também diminuiu: 71 (2004), 66 (2006) e 53 (2010).
Guerra enxerga nos números razões para ser otimista. Nos 80 municípios com mais de 200 mil eleitores, totalizando 48,9 milhões de votos (36,2% do eleitorado em 2010), José Serra ganhou a eleição para presidente em 40 cidades que não são governadas pelo PSDB, "o que sinaliza a possibilidade de crescimento", diz o deputado. Em 29 dos 40 municípios em que Serra foi o mais votado o prefeito é de um partido da base de sustentação do governo. Dos 80 municípios, os tucanos só elegeram prefeito em 13, nas últimas eleições.
FONTE: VALOR ECONÔMICO
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