Terminou sem nenhuma conclusão, na África do Sul, a reunião com representantes de países de todo o mundo sobre a adoção de medidas para combater a emissão de gases de efeito estufa e ,consequentemente, o aquecimento global.
A grande contradição nesse impasse - ou nessa pasmaceira mundial - não se dá entre os ambientalistas “do bem” e os desmatadores e poluidores “do mal” num maniqueísmo rastaquera e tão caro aos fundamentalismos de todas as vertentes.
O que está em questão parece ser uma profunda crise de civilização e de identidade do gênero humano. Em sua história, desde a mais longínqua, o desenvolvimento humano se deu com o crescimento de seu domínio sobre a natureza: colher o fruto, matar o bicho, semear a terra e colher o alimento, criar o gado e comê-lo, cavar o minério e dar-lhe novas formas, represar os rios, furar poços de óleo e gerar energia, despedaçar o átomo e gerar mais energia, assim por diante.
Sempre consumindo mais e mais recursos naturais e gerando mais conforto, prazer e longevidade, se não para todos, pelo menos estatisticamente, nas médias, nas medianas, nos PIBs e outros “per capta” e “ratings”.
O que se apresenta agora é que os limites podem ser rompidos, com a continuidade da exploração de recursos naturais podendo deixar de gerar benefícios e passar a significar riscos de perda. Porém, como se mostra hoje e dá a base ideológica da reunião inconclusa da África do Sul, é que as perdas são tidas como gerais da humanidade, e assim reconhecidas quase que consensualmente, enquanto os ganhos potenciais ainda são passíveis de serem usufruídos individualmente, por grupos específicos ou nações.
O mundo se colocou em compasso de espera, como que na esperança que seu dilema encontre alguma solução mágica, ou tecnológica, que venha a lhe poupar de ter que escolher por um novo modelo de desenvolvimento radicalmente diferente do que fez em toda sua história.
O interessante é que isso recoloca novamente na arena política conceitos e práticas que alguns julgavam sepultados com a vitória histórica do capitalismo no final do Século XX, principalmente a necessidade de organização dos interesses coletivos e difusos da sociedade, agora global e cada vez mais desgarrada do conceito de nação, mais “socialistas” e necessitados de canais democráticos de expressão, contra o consumismo, o individualismo e o financismo imperantes na economia mundial medularmente “capitalistas” e avessos a regulação e normas.
Urbano Patto é Arquiteto-Urbanista, Mestre em Gestão e Desenvolvimento Regional, Secretário do Partido Popular Socialista - PPS - de Taubaté e membro Conselho Fiscal do PPS do Estado de São Paulo. Comentários, sugestões e críticas para urbanopatto@hotmail.com
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