quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Mirem-se no exemplo de Atenas:: Vinicius Torres Freire

Parece que o fundo do poço da freada brasileira ocorreu em outubro; mas arrocho europeu ainda preocupa a turumbamba europeia passou a afetar tanto país grande que a gente esqueceu do "filme que deu origem à série", a crise grega. No entanto, mesmo consideradas todas as peculiaridades negativas do país, a Grécia é um triste laboratório das políticas que o pacto franco-germânico quer impor à Europa quase inteira.

O PIB (Produto Interno Bruto) grego deve cair uns 6% neste ano. É o quarto ano seguido de recessão. Para o ano que vem, estima-se que a economia vá encolher ainda 3%, se tudo der certo. Em cinco anos recessivos, até o final de 2012, a economia grega terá diminuído uns 15%. É uma depressão.

O país vive sob arrocho. Mas as despesas do governo cresceram 3% neste ano. A receita, dada a recessão, caiu 3%. A despesa com o serviço da dívida (pagamentos de juros e parte do principal) aumentou 19% neste ano. Assim, o deficit do governo será de uns 10% do PIB. O governo e a equipe informal de intervenção estrangeira (União Europeia, Banco Central Europeu e FMI) acreditavam em deficit de "apenas" 9% do PIB neste 2011.

Com PIB menor, menos receita e mais deficit, a dívida grega continuará viajando para alturas impagáveis. Mas o arrocho continuará. A União Europeia quer que o governo grego corte um terço do funcionalismo público até 2013 (em relação a 2008). Como o restante da Europa não vai crescer nada ou quase nada no ano que vem, os gregos não devem pois também contar com a ajuda de um "contágio positivo".

Por falar nisso, a saudável, produtiva, organizada e eficiente economia holandesa entrou em recessão. Talvez apenas a Alemanha cresça no ano que vem.

E DAÍ, PARA NÓS?

Ontem, soube-se que o consumo no Brasil praticamente não aumentou no trimestre encerrado em outubro. Segundo a Pesquisa Mensal de Comércio do IBGE, houve mesmo alguma retração nas compras em outubro, se considerada a medida que inclui carros, motos, peças e ainda material de construção.

Os economistas dizem que há sinais pequenos de recuperação em novembro. Que talvez outubro tenha sido o fundo do poço.

Deve ter sido, afora na eventualidade de catástrofes maiores virem a ocorrer na Europa etc.

Como se está cansado de saber, o argumento otimista está baseado em fatos fortes. Virá o aumento enorme do salário mínimo, a baixa dos juros deve fazer algum efeito mais visível lá por março, as isenções de impostos para empresas vão entrar em vigor.

No trimestre final do ano que vem, segundo até mesmo os economistas mais ponderados, estaríamos crescendo a um ritmo anualizado semelhante ao do extraordinário (e insustentável, por ora) ano de 2010, quando o PIB aumentou 7,5%.

Mas mirem-se no exemplo daquelas pessoas de Atenas. É verdade que, tomadas providências domésticas que independem de Europa e cia., poderíamos crescer mais. Porém, o arrocho franco-germânico fará estragos pelo continente. Não haverá solução de curto prazo. A tensão será permanente em 2012. As viradas da biruta dos mercados vão mexer nos humores de empresas e consumidores por aqui, no valor do dólar etc.: as expectativas estarão estressadas.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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