Marli Lima
CURITIBA - Os 1,17 milhão de eleitores de Curitiba (PR) vão às urnas no
domingo em um cenário bem diferente daquele de quatro anos atrás. Em 2008, o
então candidato Beto Richa (PSDB), que em 2010 virou governador, foi reeleito
prefeito da capital paranaense no primeiro turno com 77% dos votos válidos.
Agora, as últimas pesquisas indicam que haverá segundo turno e que o deputado
federal Ratinho Junior, do pequeno PSC, está com uma das vagas praticamente
garantida. O atual prefeito, Luciano Ducci (PSB), que era vice de Richa e quer
continuar no cargo que ocupa há dois anos, tem chances de ser o outro nome, mas
o ex-deputado federal Gustavo Fruet (PDT) insiste que as pesquisas estão
equivocadas e que ele participará da segunda etapa do pleito.
No levantamento do Datafolha divulgado na noite de quarta-feira pela RPCTV,
Ratinho Junior apareceu com 34% das intenções de voto, seguido de Ducci, que
estava com 25%, e Fruet, com 18%. Outros quatro nomes disputam a prefeitura de
Curitiba. Rafael Greca (PMDB) estava com 10% da preferência, Bruno Meirinho
(PSOL) tinha 2% e Alzimara Bacellar (PPL), 1%. Avanilson Araújo (PSTU) não
pontuou, 5% disseram não saber em quem vão votar e votos em branco ou nulos
somaram 6%.
A eleição está sendo uma das mais disputadas da história. No começo, o que
se viu na cidade foi empate triplo entre Ratinho Junior, Ducci e Fruet, mas ao
longo das semanas o panorama foi mudando. O eleitor gostou da linguagem e do
colorido da campanha do candidato do PSC, que tem apenas 31 anos de idade e é
filho do apresentador de televisão Carlos Roberto Massa, o Ratinho. A presença
do pai na disputa chegou a ser questionada por opositores, por tratar-se de
alguém conhecido no meio artístico, mas o pai participou de carreatas nos fins
de semana e pediu votos no horário eleitoral. Nos discursos, promessas de
uniformes de graça para as crianças e de mais vagas nas creches, inclusive à
noite.
Ducci dividiu boa parte de sua campanha com Richa, mas seu principal cabo
eleitoral não conseguiu transferir todos os votos que teve nas últimas eleições
para seu candidato. Médico pediatra, o prefeito falou da necessidade de ter
experiência para exercer o cargo, mas foi duramente criticado justamente na
área de saúde. O aumento nos congestionamentos e na violência também geraram
questionamentos, e nem mesmo seu projeto de metrô, que já está com
financiamento aprovado, ficou de fora do embate. Em avaliação recente de
prefeitos de capitais feita pelo Ibope, Ducci só conseguiu a 11ª posição no
ranking, enquanto seus antecessores sempre ocuparam as primeiras colocações.
Fruet entrou nas eleições contando com o apoio do PT, mas não conseguiu
adesão da militância do partido e apenas a ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi
Hoffmann, saiu às ruas ao seu lado algumas vezes para pedir votos. Nem a
presidente Dilma Rousseff e nem o ex-presidente Lula apareceram na campanha. Fruet
já foi do PMDB e do PSDB e saiu dos dois por não conseguir disputar a
prefeitura. Quando era tucano, foi um dos críticos do mensalão e sua
aproximação com o PT não foi bem recebida.
Greca, que foi prefeito de Curitiba de 1993 a 1997, contou com a ajuda do
senador e ex-governador Roberto Requião (PMDB) e passou parte do tempo
lembrando o que já fez. Mas, ao contrário do passado, quando lideranças
tradicionais como Requião e o também ex-governador Jaime Lerner tinham peso na
decisão dos eleitores, que eram avessos a mudanças radicais e orgulhosos da
cidade bem planejada, tudo indica que agora eles estão interessados em
novidades, conforme analisam cientistas políticos.
Como em anos anteriores, denúncias marcaram a campanha, a começar por
reportagem na revista "Veja" que mostrou salto no patrimônio de
Ducci. Ele é dono de fazendas e mora em apartamento de luxo, mas afirma que os
bens são herança de sua esposa. Jornais com denúncias contra Ratinho foram
distribuídos pela cidade. Greca mostrou em vídeos pedaços de asfalto que se
soltavam das ruas. Os discursos de Fruet, que começaram mornos, ganharam tons
mais agressivos na reta final, na tentativa de alcançar o segundo turno.
Muita estratégia que estava pronta para 2014 vai depender do resultado de domingo
e do segundo turno. Richa conta com a vitória de Ducci para facilitar seus
planos de ser reeleito governador do Estado. O PT decidiu ficar do lado de
Fruet porque também tem planos para daqui a dois anos, quando Gleisi deverá
concorrer nas eleições para o governo. Ratinho Junior, que chegou a ser sondado
para ser vice tanto de Ducci como de Fruet, usou isso nas falas, dizendo que é
o único que não tem compromisso com 2014.
Fonte: Valor Econômico
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