Se o relator Joaquim Barbosa se investiu da condição de adversário, o
revisor Ricardo Lewandowski assumiu destemidamente a de aliado do PT e de Lula,
amigo da sua família e autor de sua nomeação para o Supremo. Sua postura, seu
"timing" e seu tom compõem a alma dos seus votos.
A primeira questão que seus pares levantam é de coerência. Se Lewandowski
condenou Delúbio Soares e Marcos Valério por corrupção ativa e tantos outros
por corrupção passiva, como nega que tenha havido o mensalão, a compra de
votos, que a maioria do tribunal admitiu? Então, o que Delúbio e Valério
compraram? E o que os demais venderam?
Outra questão é o que os ministros vêm chamando de "jogo de
compensação". Lewandowski condena o tarefeiro Delúbio e absolve José
Dirceu, o "mandante", segundo a Procuradoria-Geral e o relator. Assim
como condenou o mequetrefe exótico Henrique Pizzolato, do Banco do Brasil, para
absolver, ops!, e absolveu João Paulo Cunha, deputado federal e ex-presidente
da Câmara. Talvez fosse mais coerente e mais corajoso absolver todos eles, já
que se diz convencido de que o mensalão não existiu...
Na sessão de ontem, Lewandowski parecia uma ilha, sob questionamento de
Gilmar Mendes, de Marco Aurélio Mello, do decano Celso de Mello e até do sempre
suave presidente Ayres Britto. E o primeiro voto, de Rosa Weber, corroborou o
do relator, discordando do revisor.
Chama a atenção ainda a decisão do revisor de começar o voto do núcleo
político já na quarta-feira, como que para amenizar o impacto da condenação de
Delúbio, Genoino e Dirceu por Joaquim. E deixou a absolvição de Dirceu para
ontem. Uma manchete para a condenação, outra para a absolvição no dia seguinte?
Como detalhe: o forçado (marqueteiro?) elogio ao assessor negro que
distribuiu seu voto aos ministros, um a um. Contraponto ao carismático relator
e à sua fúria condenatória?
Fonte: Folha de S. Paulo
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