A lógica era cortante, mas a voz traía a emoção. A palavra
"infelizmente" foi repetida. A ministra Rosa Weber votou de forma
implacável, mas admitiu: "A maior tristeza da minha alma." Sua face
pública estava exposta na dureza do voto; sua emoção, implícita nos gestos e
voz. E assim ela condenou José Dirceu e José Genoíno por corrupção. "É
como voto, senhor presidente."
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski defendeu o
ex-ministro da Casa Civil José Dirceu de forma mais eficiente que o próprio
advogado do réu. O que atrapalhou o voto foram suas próprias palavras quando
condenou outros réus ou quando escolheu argumentos que se chocavam com o que
dissera minutos antes.
Rosa Weber e Luiz Fux acompanharam o voto do relator Joaquim Barbosa, que
condenou oito dos réus neste capítulo. O ministro Fux disse que juntou no voto
14 "elementos probatórios" contra José Dirceu. Lewandowski rebateu um
deles. O da reunião no hotel Ouro Minas entre o então ministro Dirceu e a
presidente do Banco Rural Kátia Rabello.
Fux disse que Kátia admitiu em juízo que eles conversaram sobre o Banco
Mercantil de Pernambuco. Lewandowski discordou. Disse que Kátia disse em juízo
que a mulher de Marcos Valério, Renilda, não dissera a verdade quando contou na
CPI que na reunião se falou dos empréstimos ao PT.
Na verdade, o empréstimo era uma coisa; o Banco Mercantil era outra. Pior.
Os empréstimos foram estranhos, mas o outro caso era ainda mais indevido. Por
17 vezes o publicitário Marcos Valério foi ao Banco Central pressionar por uma
solução que daria aos donos do banco muito mais lucro do que o valor do
crédito.
Enquanto Kátia Rabello se reunia com José Dirceu, os donos do Banco
Mercantil de Pernambuco processavam o Banco Central. O Rural tinha 22% do banco
em liquidação desde o Proer. O que queriam era mudar o fator de correção da
dívida. Isso faria um banco quebrado virar um bom ativo.
Lewandowski condenou Marcos Valério e Delúbio Soares e vários outros. Disse
que comungava com o voto do relator ao definir "o modus operandi do núcleo
publicitário", lembrou que "para a caracterização do crime basta
estar na esfera de atribuição do funcionário público". Admitiu até que
"a prova da entrega da vantagem indevida ficou evidenciada".
Para ele, o tesoureiro do partido e o publicitário cometeram crimes e
distribuíram vantagem indevida. Mas José Genoíno nada soube porque era apenas o
articulador político, e José Dirceu já havia "abandonado as lides
partidárias". Lewandowski acha que as acusações feitas por Roberto
Jefferson devem ser desprezadas porque ele é "inimigo figadal" de
José Dirceu. Mas todos os depoimentos dos amigos foram aceitos ao pé da letra.
O ministro argumentou que "nós juízes temos que julgar de acordo com o
que está aqui nos autos". E depois usou como argumentos entrevistas
concedidas aos jornais. Lewandowski disse que a defesa demonstrou de forma
torrencial que "Delúbio jamais agiu sob as ordens de José Dirceu".
Segundo ele, o chefe da Casa Civil sequer negociou a aprovação das reformas
políticas, mesmo sendo o ministro político. Tudo do que se acusa Dirceu seria,
na opinião do revisor, "meras ilações".
Coube a Rosa Weber afirmar que aquela interpretação dos fatos era
"implausível, com todo o respeito". Segundo ela, as provas mostram
acima de qualquer dúvida razoável que "houve conluio para a compra de
votos" e que foi "decidida pelo núcleo político e executada pelo
núcleo operacional". Lamentou de novo o voto que daria, mas explicou que
precisava "pôr a cabeça no travesseiro".
Fonte: O Globo
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