Definida mesmo para 2014, até o momento, só a candidatura de Dilma Rousseff à reeleição. O que não significa que não poderá desistir a favor de Luiz Inácio Lula da Silva, que haverá uma candidatura única no campo governista, que o governador Eduardo Campos está fora do páreo para ceder ao PT, que uma vez iniciada a campanha de Dilma, como já está, todo mundo vai correr atrás. Podem todos ficar parados olhando, enquanto se preparam. Significa, apenas, que Dilma está em campanha, acelerada e marquetada. Ela entrou em ebulição a uma distância do pleito semelhante àquela que Lula estabeleceu para iniciar a corrida efetiva da sua primeira eleição, em 2010: dois anos antes.
Lula e Eduardo Campos, na aliança de governo, Aécio Neves e Marina Silva, na oposição, encontram-se na situação, como no pôquer, de aguardar as pedidas. Medem-se de corpo inteiro.
Um interlocutor assíduo do ex-presidente Lula acha risível a conclusão dos apressados de que ele desistiu mesmo a favor de Dilma, prova disso seria seu silêncio e discrição, no momento, depois de orientá-la a correr o país e aproximar-se mais do PT. O ex-presidente mergulhou, sim, mas foi após o seu mais recente revés, o da revelação de suas ligações com protagonista do esquema de corrupção montado no escritório da Presidência da República em São Paulo. Que, por sua vez, surgiu logo depois de um depoimento do publicitário Marcos Valério tê-lo colocado no centro do mensalão. Até para Lula foi demais, ficou mudo e discreto.
Não significados da embolada governista
Mas logo que pôde botar a cara na janela, embora ainda em silêncio, no modelo da candidatura Renan à presidência do Senado, o fez. Reuniu-se com a presidente Dilma e tratou do esquema eleitoral.
A campanha de Dilma será intensificada a partir de agora, embora já tenha começado em decibéis elevados e no Brasil inteiro.
Lula, porém, está no jogo, e o PT está tranquilo porque foi convencido disso. A avaliação corrente é que está cedo para Lula se expor e que a discrição do momento, em que começa uma campanha pelo exterior para restabelecer sua imagem interna e não obscurecer a campanha de Dilma e evitar cobranças, não significa que tenha se conformado à posição de ex. "Está cedo para a candidatura dele ser posta, mas ele está no jogo", diz um amigo e frequentador do Instituto.
Também não é uma divisão de espaço formal, feita de forma combinada com Dilma. Pode parecer, mas não é, garante o interlocutor. Tudo é subentendido e cada passo é dado naturalmente, ditado pelo bom senso, sob orientação de Lula.
Também o governador de Pernambuco está na mesma situação: aguarda as pedidas. Só que ele, ao contrário de Lula, não diz objetivamente que não será candidato. Deixa a especulação rolar com evidente cupidez, estimula as candidatura do seu campo político à presidência da Câmara, não desestimula ninguém e deixa-se vislumbrar numa possível candidatura de reconhecimento em 2014, deixando a aliança com o governo para o segundo turno. Visita Lula, visita Dilma, não diz que é candidato nem que não é. E não precisa dizer, mas é candidatíssimo.
O melhor a fazer, para as candidaturas que se opõem a essa embolada governista, é se dedicarem a uma preparação não amadora para o embate real mais à frente. Marina Silva está dando os primeiros passos, quer criar um partido. Mas e Aécio?
A; campanha do senador Renan Calheiros para ser eleito presidente do Senado e, como consequência, do Congresso Nacional, transformando-se em chefe supremo do Poder Legislativo, depois de renunciar ao cargo para evitar perda de mandato por falta de decoro, só atua às claras junto ao baixo clero. Calheiros tem recebido senadores suplentes com suas mulheres em casa, na praia de Barra de São Miguel, em Alagoas. Para o alto clero ele nem admite candidatura, para não se expor. Por recomendação de especialistas, só emergirá, talvez, na sessão de votação. Os senadores descontentes com este destino estavam entregues ao desconforto da má sorte, sem condições de reagir, quando, nos dois últimos dias, líderes consagrados começaram a fazer um apelo candente ao candidato, só ele capaz de resolver o problema da coletividade retirando sua candidatura. Eduardo Suplicy (PT) implorou anteontem ao senador que não se candidate; Aécio Neves (PSDB) fez o mesmo, ontem, um apelo à desistência. Os dois partidos estavam, até agora, recomendando voto em Renan. Portanto, um problema que se resolve facilmente: é só retirar a recomendação e votar contra.
Q; uando se imaginava que não era mais possível piorar a imagem do Senado Federal, há anos ao rés do chão, seu presidente, José Sarney, nas últimas horas de seu mandato, decidiu jogar a pá de cal. O impasse na regulação das transferências do Fundo de Participação dos Estados (FPE) só tem um responsável, o Congresso Nacional, a quem foi dado um tempo amplo, geral e excessivo para fazer nova norma antes que a antiga, prorrogada até 31 de dezembro de 2012, expirasse. Não o fez, a regulação findou e o governo começou a repassar recursos sem regras até que o Supremo Tribunal Federal analisasse o pedido de mais uma prorrogação do esquema provisório de repasses. Para atender aos Estados, o ministro Ricardo Lewandowski (STF), no exercício da presidência, durante o recesso judiciário, prorrogou por mais 150 dias a tolerância para a ausência de regulação da transferência. Como reagiu Sarney?
Disse que não está obrigado a cumprir a decisão de Lewandowski e não se submeterá à "pressão" do Supremo. E ainda fingiu-se de desentendido, como está na moda, dizendo que o Supremo estava mesmo era determinando prazo para o Executivo, "responsável pelos repasses", e não para o Congresso, responsável pela nova norma de partilha. "Ele não dá prazo ao Congresso. Ele apenas mantem a decisão de um nova regulamentação do fundo e diz que durante cinco meses serão mantidas as mesmas regras. É mais dirigido ao Poder Executivo, de manter a transferência de acordo com os índices da antiga distribuição", diz, levando o contorcionismo ao sofisma máximo.
Fonte: Valor Econômico
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