sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Solidariedade afeta mais PSD e PDT

Por Raquel Ulhôa

BRASÍLIA - A movimentação de deputados federais interessados em migrar de suas atuais legendas para o Solidariedade, partido articulado pelo deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP) e prestes a ser formalizado, sinaliza que a nova sigla poderá nascer com uma das maiores bancadas da Câmara dos Deputados. A conversa estaria avançada com cerca de 30 parlamentares, insatisfeitos em seus partidos. O assédio também é grande por parte de governadores.

Os deputados que procuram os idealizadores do Solidariedade estão recebendo garantia de que terão o comando dos diretórios estaduais. Mas há preocupação com o prazo. Se o partido não conseguir o registro até no máximo dia 17, parlamentares dizem que não haverá tempo hábil para a organização dos diretórios, obtenção dos registros provisórios e filiação dos pré-candidatos às eleições de 2014. Pela legislação, isso tem que acontecer até dia 4 de outubro.

Única janela que no momento parece viável para que um parlamentar mude de partido sem correr o risco de perder o mandato - por se tratar de nova legenda -, o Solidariedade poderá ter a quinta maior bancada da Câmara, dependendo dos partidos que mais perderem filiados.

Hoje, os partidos com maior número de deputados federais são o PT (88), o PMDB (81), o PSDB (49), o PSD (45), o PP (39), o DEM (27), o PDT (26) e o PSB (25). Segundo participantes das reuniões, a tendência é que o PSD de Gilberto Kassab e o PDT sejam os partidos que mais percam deputados para o Solidariedade.

"O Paulinho é o Kassab da vez", define um deputado, lembrando como o ex-prefeito de São Paulo criou o PSD - presidido por ele - e tirou políticos de diferentes partidos. Por essa razão, Kassab seria, atualmente, um dos dirigentes partidários mais preocupados com a criação do partido do deputado Paulo Pereira da Silva.

Paulinho da Força, como o deputado é mais conhecido, tem sido procurado por vários governadores. Já conversou com Geraldo Alckmin (PSDB), de São Paulo, Marconi Perillo (PSDB), de Goiás, Beto Richa (PSDB-PR), Antonio Anastasia (PSDB), de Minas Gerais, André Puccinelli (PMDB), do Mato Grosso do Sul, Eduardo Campos (PSB), de Pernambuco, e Cid Gomes (PSB), do Ceará.

O último foi Cid, que afirmou não deixar o PSB, apesar das divergências com o presidente do seu partido, o governador de Pernambuco, pré-candidato a presidente da República.

O principal interesse dos governadores é contar com o Solidariedade em sua base de apoio. Para isso, podem transferir parlamentares de partidos aliados para a nova legenda. Em contrapartida, teriam o controle do partido nos Estados. Faria parte do pacote de negociação a participação no tempo de propaganda eleitoral ao qual a nova legenda terá direito.

Essa tentativa de entendimento muitas vezes esbarra com interesses de deputados envolvidos na articulação da legenda, porque, nas reuniões que têm sido realizadas, Paulinho tem garantido que os diretórios estaduais terão autonomia para se organizar e definir as coligações eleitorais locais.

Como única válvula de escape de parlamentares insatisfeitos, o Solidariedade desperta interesse de deputados da oposição e de partidos da base aliada de Dilma Rousseff. Por isso, uma vez criado, seus diretórios tendem a fazer coligações eleitorais estaduais diferentes.

Na eleição nacional, Paulinho da Força tem sinalizado simpatia pela candidatura de Aécio Neves (PSDB) à Presidência da República - embora também tenha proximidade com Eduardo Campos-, mas não pode garantir qual a linha será adotada pelo futuro partido.

"Se depender de mim, o partido vai para a oposição. Mas não sou o dono. Tem muita gente vindo para o partido que gostaria de apoiar a reeleição da Dilma. Isso não está definido", afirma o deputado Paulo Pereira da Silva.

Uma vez criado, o Solidariedade terá condições de agregar um universo "eclético" de parlamentares, segundo um dos envolvidos. Mesmo que a ex-ministra Marina Silva consiga registrar seu partido, o Rede Sustentabilidade, essa nova legenda atrairia um número bem menor de deputados, por ser "mais ideológico e restritivo". Um dos aliados de Marina, Domingos Dutra (PT-MA), é aguardado no partido de Paulinho, caso o Rede realmente não obtenha registro.

"Não é um partido ideológico. Tem um viés trabalhista, mas conta também com representantes do setor produtivo", diz ele, que quer permanecer no anonimato para evitar constrangimentos, já que só deixará seu atual partido após o registro do Solidariedade. É esta, aliás, a situação da maioria dos deputados que têm participado das reuniões do grupo.

Outro partido que está sendo criado, o Partido Republicano da Ordem Social (PROS), não é considerado uma alternativa eleitoralmente viável, principalmente pela falta de uma liderança nacional.

Fonte: Valor Econômico

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