A melhor observação que ouvi sobre a espionagem de diplomatas estrangeiros por parte do governo brasileiro foi uma pergunta: "Você acha que a Abin é a NSA?". O questionamento veio de dentro da administração Dilma Rousseff.
De fato, a Agência Brasileira de Inteligência não é a Agência de Segurança Nacional (o nome traduzido da NSA, dos EUA). A começar pelo orçamento e pelo acesso à tecnologia.
Mas não é esse o ponto. A indagação adicional a ser feita é a seguinte: como atuaria a Abin se tivesse todos os recursos da NSA? Ou mais: resistiria a bisbilhotar a tudo e a todos como faz a contraparte norte-americana? Essas perguntas, é claro, não têm repostas. Teriam de ser testadas na prática --num cenário hoje inexistente. Só que ninguém está proibido de imaginar como seria o serviço secreto brasileiro desfrutando dos mesmos meios da NSA.
O fato é que o sentimento geral do governo brasileiro foi de desalento ao ler a reportagem de Lucas Ferraz, na Folha, relatando como atuou a Abin no início do governo Lula. Não porque haverá alguma repercussão de grande monta no cenário internacional. Tratou-se de uma espionagem mambembe. O problema maior é a erosão do discurso eleitoral interno, já em uso e a todo o vapor.
Dilma Rousseff havia tirado a sorte grande com o caso de espionagem dos EUA. Nada mais popular do que uma presidente da República se levantar, indignada, contra a intrusão ilegal dos norte-americanos nos telefonemas privados do governo brasileiro. Quem há de ser contra? Para melhorar as coisas, a petista maquinou uma aliança com a Alemanha na formulação de um plano mundial contra a violação de comunicações.
Tudo ainda poderá ser usado na campanha eleitoral do ano que vem. Mas sempre haverá o contraponto da Abin seguindo estrangeiros no Brasil. A Abin, vá lá, não é a NSA. Já a espionagem é espionagem em qualquer lugar.
Fonte: Folha de S. Paulo
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