Não foi à toa a reunião do sábado passado da presidente Dilma Rousseff com seus ministros da área social. A um ano das eleições, o governo não tem uma marca para chamar de sua. O que ancora o prestígio da atual administração no eleitorado são velhas bandeiras que a petista herdou do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, como os programas de Aceleração de Crescimento (PAC), que tem problemas de execução nos projetos mais grandiosos, como a transposição do Rio São Francisco e a construção da ferrovia Transnordestina; o Minha Casa, Minha Vida, de financiamento da habitação; e, principalmente, o Bolsa Família, que beneficia 13,5 milhões de lares.
Isso quer dizer que a proposta de continuidade da Era Lula não seja um bom chamamento eleitoral? Claro que não. Mas também é aí que mora o perigo se o cenário eleitoral se complicar na virada do ano, por força das circunstâncias econômicas. Ou Dilma alavanca sua administração, a ponto de consolidar a expectativa de que será reeleita logo no primeiro turno, ou o fantasma do ex-presidente Lula continuará assombrando o Palácio do Planalto e os corações e mentes de seus aliados, com risco de contaminar a base eleitoral do governo, uma vez que Lula faz campanha aberta em defesa de suas realizações.
Bem que a presidente da República está tentando realizar um governo com a sua identidade, a ponto de provocar reações de petistas e aliados saudosos do trato com Lula na Presidência. O programa Mais Médicos, por exemplo, é uma tentativa audaciosa de construção de sua própria marca na área da saúde. Mas nem sempre isso soma a favor de sua reeleição. É o caso, por exemplo, da marcha forçada para baixar os juros, que fracassou diante da alta da inflação. Nove entre 10 empresários ligados ao governo se queixam do Palácio do Planalto. A rigor, até os executivos das empresas estatais.
Dilma foi eleita com a economia bombando, os peso-pesados do empresariado nacional ao seu lado e o maior arco de alianças políticas já visto no país. Mas tudo indica que o cenário da reeleição será outro, mais adverso do ponto de vista das condições macroeconômicas e correlação de forças políticas. Sua política de concessões na área de infraestrutura, por uma série de erros de seus gestores, acabou não deslanchando. Somente agora, após o leilão de Libra — que só teve um consórcio interessado, graças ao empenho do próprio governo —, parece que deslancharão as privatizações de aeroportos, estradas, ferrovias e portos. Se o governo for bem-sucedido nessas privatizações, Dilma terá uma marca importante para mostrar na economia: a retomada dos investimentos privados em infraestrutura.
Esses investimentos, porém, estão mais para programa de governo do segundo mandato do que para bandeira de realizações com apelo eleitoral. O bicho pega é na área social, que puxa para baixo a avaliação da administração e da própria presidente da República. O modo de governar da presidente Dilma Rousseff, por exemplo, no Ibope/CNI de setembro, havia subido de 45% para 54% de aprovação, mas quase todas as áreas de atuação do governo registraram quedas. A saúde havia caído de 32% para 21%, com desaprovação passando de 66% para 77%. Na educação, passou de 47% para 33%, enquanto a desaprovação foi de 51% para 65%. Na segurança pública, caiu de 31% para 24%, enquanto a desaprovação foi de 67% para 74%.
O setor melhor avaliado foi o combate à fome e à pobreza. Mesmo assim, a aprovação caiu de 60% para 51%, enquanto a desaprovação foi de 38% para 47%. No combate ao desemprego, a aprovação de 52% baixou para 39% e a desaprovação subiu de 45% para 57%. A pior queda, porém, foi na política de juros. O índice caiu 16 pontos percentuais, de 39% para 23%. A desaprovação foi de 54% para 71%. Pior, é que no combate à inflação, a aprovação caiu de 38% para 27% e a desaprovação passou de 57% para 68%. Ou seja, um dilema de Sofia, pois não dá pra segurar a inflação sem subir os juros.
Como se sabe, um cenário desses, durante campanhas eleitorais, com suposta paridade de armas, é um campo aberto para ataques de adversários. Além disso, com esse desempenho, a cara do governo Dilma pode ser muito diferente do de Lula, mas para pior. Vem daí o puxão de orelhas na equipe de ministros da área social.
Polícia pra quem?
O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, admitiu ontem disse que 70% das pessoas não creem nas polícias brasileiras, segundo pesquisa feita pela Fundação Getulio Vargas (FGV) para a elaboração do Índice de Confiança na Justiça Brasileira. Divulgado ontem, em São Paulo, o 7º Anuário Brasileiro de Segurança Pública aponta que, em 2012, pelo menos 1,89 mil pessoas foram mortas em confrontos com policiais civis e militares.
Fonte: Correio Braziliense
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