Caso Petrobras, no entanto, opõe grupo da presidente e de seu antecessor
Fernanda Krakovics, Luiza Damé e Catarina Alencastro – O Globo
BRASÍLIA — A atual crise na Petrobras opõe, de forma direta, os governos Dilma e Lula. Ao tentar se livrar do desgaste de ter aprovado a compra da refinaria de Pasadena pela Petrobras, quando era ministra da Casa Civil e presidia o conselho de administração da estatal, a presidente Dilma Rousseff acabou levantando suspeitas sobre a gestão de José Sergio Gabrielli, indicado para a presidência da empresa por Lula. Ao ser eleita, Dilma indicou para o cargo a atual presidente Graça Foster.
Ainda assim, a presidente se vê diante de uma situação inusitada: para enfrentar a crise provocada pelas denúncias contra a empresa, a presidente leva em conta os conselhos das pessoas de seu entorno, principalmente do ex-presidente Lula. A queda de sete pontos percentuais na popularidade do governo, de acordo com pesquisa CNI/Ibope divulgada na última quinta-feira, também fez com que a equipe do Planalto entrasse em alerta e buscasse no ex-presidente combustível para lidar com o momento político.
Lula acaba então fazendo o papel de bombeiro, trabalhando para tentar melhorar o ambiente, tanto com empresários quanto no próprio PT. Antes mesmo de estourar a crise que envolve os diretores da Petrobras durante o governo Lula, o ex-presidente dava mostras de impaciência e vinha criticando reiteradamente o estilo de Dilma. O ex-presidente costumar dizer que ela tem que conversar mais, mediar, fazer mais política, ouvir. Para o petista, ela conversou pouco com o setor produtivo - que tem reclamado muito do governo - e os com movimentos sociais.
Um efeito prático da turbulência enfrentada por Dilma é a mudança na articulação política do governo, um dos principais motivos de queixa tanto do PT quanto dos partidos da base aliada. O deputado Ricardo Berzoini (PT-SP), apadrinhado pelo ex-presidente Lula, assumirá o Ministério das Relações Institucionais, na próxima terça-feira, no lugar de Ideli Salvatti. Suas principais tarefas serão conter a rebelião da base aliada na Câmara, onde tem bom trânsito, e administrar a CPI da Petrobras.
Presidente não acatou nota de estatal diante de denúncia
A forma de lidar com a denúncia envolvendo a compra de Pasadena, negócio com suspeita de superfaturamento, é um exemplo do voluntarismo da presidente Dilma Rousseff. Ela não acatou a sugestão de resposta enviada pela estatal e decidiu redigir uma outra nota, o que foi considerado um erro por dirigentes do PT, porque levou a crise para dentro do Planalto.
Parlamentares petistas e da base aliada culpam, em conversas reservadas, a própria presidente pela criação da CPI da Petrobras, devido à nota divulgada pelo Palácio do Planalto afirmando que ela apoiou a compra da refinaria de Pasadena baseada em “documentação falha” e “informações incompletas”, dando munição para a oposição.
No início de seu governo, Dilma chegou a repetir o modelo implementado por Lula de fazer reuniões com um “núcleo duro” de ministros mais próximos para discutir os principais assuntos, mas ela cancelou esses encontros porque ficava irritada com o vazamento de informações para a imprensa.
Atualmente, se tivesse um núcleo duro, Dilma o concentraria exclusivamente num único auxiliar: o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante. É com Mercadante que a presidente discute todos os assuntos e a quem dá ouvidos quando vai tomar uma decisão. Nas duas últimas crises que se abateram sobre Dilma — a rebelião da base aliada e as sucessivas revelações sobre desmandos na Petrobras — Mercadante foi escalado para comandar, com os respectivos responsáveis por esses assuntos, saídas para os problemas.
No caso Petrobras, ele tem se articulado com a presidente da estatal, Graça Foster, e com os ministros José Eduardo Cardozo (Justiça) e Luís Inácio Adams (Advocacia Geral da União). O novo chefe de gabinete da presidente, Beto Vasconcelos, também participa das conversas. Já na revolta política, Mercadante assumiu praticamente todas as conversas com congressistas da base, tarefa antes executada pela ministra Ideli Salvatti, que passou da Secretaria de Relações Institucionais para a Secretaria de Direitos Humanos.
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