O Estado de S. Paulo
A avaliação de ruim/péssimo do governo de Dilma Rousseff é ligeiramente superior à de FHC e Lula em igual período de seus primeiros mandatos - 27%, ante 20% do tucano em 1998 e 22% do petista, em 2006. É verdade que os "ex" tinham mais jogo de cintura para superar adversidades, mas ainda assim a mais recente sondagem do Ibope não deveria surpreender nem precocemente retirar a presidente da condição de favorita para a próxima eleição.
Esse quadro não se desenhou de uma hora para outra: a reversão de expectativas em relação ao governo se dá desde meados do ano passado. O Datafolha de 6 e 7 de junho já demonstrava curvas de expectativa descendentes em relação à inflação e ao poder de compra dos entrevistados. Analistas só olhavam para a popularidade e não compreendiam as manifestações de junho nem o efeito de tais expectativas ao longo do tempo. Atribuíram tudo à rua desorganizada, sem pauta ou foco - que em pouco tempo fez com que o clima arrefecesse, retomando a crença de que a eleição seria um passeio e Dilma, franca favorita.
Naturalmente, a presidente detém importantes instrumentos de campanha - reeleição favorece, centralidade no noticiário, máquina, tempo de TV, grandes partidos, marqueteiro experiente e o maior cabo eleitoral da história, Lula. Além disso, a oposição não capitaliza o descontentamento, tem muitos problemas e pouco tempo, e não conta com trunfo capaz de rivalizar com Lula.
Mas há tempos o governo patina, sem cumprir o desafio da continuidade ao virtuoso processo dos 16 anos anteriores a 2011. Abriu-se um flanco num setor sensível, que é a percepção do eleitor em relação ao seu bem-estar. A percepção latente de piora é lenta até se consolidar e dar saltos na direção do pessimismo explícito, como parece ser o momento. Os números já diziam, e hoje reafirmam, que o favoritismo de Dilma é frágil.
Sua condição é precária, pois seu diagnóstico da política, da economia e da sociedade se mostrou inconsistente, comprometendo o desempenho. Escolhas erradas e má condução de processo não tardam a cobrar seu preço. Um governo não se faz só de gerentes, mas de políticos visionários. Trocar o longo pelo curto prazo é um problema, quando o futuro chega. Simples assim. Nada disso é novo; Dilma é apenas fragilmente favorita - ainda assim favorita, por enquanto.
*Cientista político e professor do Insper
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