sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Para evitar crise com PT, Dilma não divulgará programa

• Há divergências com PT sobre temas como economia e leis trabalhistas

Fernanda Krakovics – O Globo

BRASÍLIA - Para evitar crises e cobranças, a presidente Dilma Rousseff, candidata à reeleição, desistiu de divulgar um documento único com suas propostas para um segundo mandato. Pesou na decisão a experiência de sua adversária Marina Silva (PSB), que sofreu desgaste ao ter seu programa de governo dissecado, e também a necessidade de lipoaspirar o trabalho produzido por 29 grupos setoriais, formados por integrantes do PT, do próprio governo e de movimentos sociais.

Tradicionalmente, as teses defendidas pelo PT são mais ousadas e mais à esquerda do que as do governo. São especialmente sensíveis áreas como a política econômica, a pauta LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros), a reforma previdenciária e mudanças nas leis trabalhistas.

A direção do PT e a coordenação da campanha negam que tenha havido recuo e afirmam que, desde o início, a intenção era divulgar as propostas aos poucos, na propaganda na televisão, em atos políticos e em entrevistas à imprensa. Essa, no entanto, não era a dinâmica em curso. Ao registrar sua candidatura no Tribunal Superior Eleitoral, Dilma protocolou um documento genérico, que foi aprofundado em reuniões dos grupos setoriais. Esse material estava sendo compilado pela coordenação da campanha e passaria pelo crivo da candidata, antes de ser divulgado.

"Desde o início da campanha, 29 grupos setoriais vêm debatendo um conjunto de propostas - todas elas encaminhadas à coordenação. Constituem um rico repositório de ideias, que não conflitam nem tampouco caracterizam a construção de um novo programa distinto do já apresentado (ao TSE)", afirma nota divulgada pela coordenação da campanha.

Saias-justas pesaram
Um exemplo de saia-justa que pesou para não divulgar um documento detalhado foi a declaração de Dilma, em entrevista, a favor da criminalização da homofobia. A campanha resistia em colocar esse item no papel, para não se indispor com setores de igrejas evangélicas e católica. Mas temia que a ausência da proposta soasse como recuo e gerasse cobranças do movimento LGBT.

Esse tema é especialmente caro porque foi um dos principais pontos de desgaste de Marina. Um dia após a divulgação de seu programa de governo, a candidata do PSB retirou do texto o apoio à aprovação de projetos e emendas constitucionais que garantem o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo e à articulação, no Congresso, para a votação do projeto que criminaliza a homofobia.

Outra dificuldade é a área econômica. Em momento de baixo crescimento e críticas do empresariado, a avaliação na campanha é que defender no programa a política atual geraria desgaste, por mais que Dilma credite as dificuldades à crise internacional. Por outro lado, propor mudanças seria interpretado como autocrítica.

Quanto ao PT, entre as propostas aprovadas nos grupos setoriais estava a redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais. O governo é contra, porque acha que isso reduziria a competitividade da indústria nacional no exterior. Também foi sugerido o fim do fator previdenciário, outro item que não passa pelo crivo do Planalto.

No início do ano, o PT divulgou uma proposta de diretrizes de programa de governo que incluía a regulação da mídia, revisão da Lei de Anistia e financiamento público de campanhas eleitorais. Os três temas, polêmicos, ficaram de fora do programa de governo protocolado pela candidata no TSE.

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