- O Globo
O retrato que o IBGE mostrou ontem do Brasil tem, como sempre, boas e más notícias. Treze milhões de brasileiros não sabem ler, o analfabetismo caiu para 8,2%, mas o número absoluto espanta. O país está envelhecendo rapidamente. A desigualdade parou de cair, e o desemprego subiu. Os brasileiros estão com mais acesso a bens e serviços e cada vez mais conectados.
Desigualdade é muito mais difícil de cair do que a pobreza. A inflação alta e o crescimento baixo sempre cobram seu preço, e ele bateu nessa volta da desigualdade aos níveis de 2011. Vamos lembrar que no Brasil a distância entre pobres e ricos é mal medida, e mesmo assim é muito alta. Nos últimos tempos o país vinha comemorando uma pequena melhora na desigualdade do mercado de trabalho e mesmo essa parou de cair.
Estamos envelhecendo. Em todos os grupos etários de zero a 24 anos houve queda do percentual nos últimos dez anos. Por exemplo, os brasileiros de zero a quatro anos, em 2004, representavam 8,2% do país; em 2013, eram 6,6%. E vai assim até o grupo de 20 a 24, que caiu de 9,4% a 7,9%. Mas aumenta daí em diante. Os que mais sobem são o grupo de 40 a 59 anos, de 21,1% para 24,6%, e o de 60 anos ou mais, que sai, nesses dez anos, de 9,7% para 13% da população. Apesar disso, quase metade da população, 48,2% dos brasileiros, tem entre 25 e 59 anos, ou seja, está no auge da capacidade produtiva.
Há um percentual menor de jovens entrando no mercado de trabalho, há mais gente na porta de saída, até porque o Brasil é um país onde há muita aposentadoria precoce. Isso ajuda a redução do desemprego, mas não foi suficiente para manter a queda. Por esse dado, que é mais nacional do que as pesquisas mensais de emprego, o desemprego cresceu de 6,1% para 6,5%. Mesmo esse número é muito bom perto das taxas de desemprego de inúmeros países. É bem verdade que grandes economias, que enfrentaram de frente a crise, já recuperaram o emprego, como Estados Unidos, Alemanha e Reino Unido.
Os dados que o IBGE traz para a reflexão do país mostram o quanto nós deveríamos estar discutindo profundamente como enfrentar todos os problemas e desafios que as nossas muitas transições estão impondo. Mas, dos três candidatos presidenciais com chances, só uma apresentou seu programa. Os marqueteiros com suas peças ficcionais continuam dominando o que deveria ser o melhor momento do debate democrático.
Uma questão que faz a gente pensar é o próprio IBGE. Essa pesquisa foi a 149 mil domicílios pelo Brasil todo, agora, incluindo a região mais interna da Amazônia, e ouviu 363 mil pessoas. A apresentação tem o título "Uma janela para olhar o Brasil". Com o violento e despropositado corte orçamentário que enfrentou, como pode o IBGE continuar nos ajudando a olhar por esta janela? Duas pesquisas não serão feitas no ano que vem. Há reduções de gastos que fazem sentido, mas estrangular o instituto oficial de pesquisas e estatística do país não é uma delas.
Voltando a olhar o país pela janela do IBGE é possível constatar que o Brasil atingiu o que se propôs quando lançou a campanha toda criança na escola: de 6 a 14 anos, 98,4% estão estudando. Antes, a faixa era de 7 a 14 e depois foi antecipado em um ano. Outro excelente dado é o aumento da presença na pré-escola.
Mais brasileiros se reconhecem como pretos ou pardos e menos se declaram brancos. Em 2004, 51,2% eram brancos; agora, 46%. O percentual dos que se declaram pretos saiu de 5,9% para 8,1%. E os pardos saíram de 42,2% para 45%. O número tem evidente relação com a valorização dos negros, em uma sociedade que sempre os discriminou dissimulada ou acintosamente. Há muito a andar nesse caminho, mas já demos alguns passos desde o início das ações afirmativas.
O índice de saneamento melhorou e há que se comemorar cada ponto de avanço nesse item em que há um horroroso atraso. Aumentou um ponto percentual em um ano, de 63,3% para 64,3% o percentual de domicílios ligados à rede coletora de esgoto ou tendo fossa séptica. Evidentemente, é muito pouco. No Norte, apenas 19,3% têm acesso à rede de esgoto ou fossa.
O Brasil vem melhorando nas últimas décadas a cada novo retrato trazido pela PNAD, mas o que falta fazer é assombroso. As escolhas com o dinheiro público precisam ser mais sensatas e objetivas.
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