Frente a frente, candidatos travam guerra de gestões
• Aécio ataca governo e afirma que gestão petista é ‘um mar de lama’, enquanto Dilma explora escândalos ligados aos tucanos
Carla Araújo, Débora Bergamasco, Elizabeth Lopes, Isadora Peron, Pedro Venceslau, Ricardo Galhardo, Vera rosa, Eduardo Kattah e Iuri Pitta - O Estado de S. Paulo
O primeiro confronto direto entre os dois candidatos à Presidência da República no 2.º turno, nesta terça-feira à noite na TV Bandeirantes, mostrou em rede nacional a tentativa de Dilma Rousseff (PT) de expor falhas da gestão de Aécio Neves (PSDB) no governo de Minas Gerais, enquanto o tucano procurou classificar a petista de “leviana” e de usar “mentiras” para atacá-lo sem reconhecer as “falhas” da administração do País. Com praticamente todo o programa dedicado às perguntas e respostas entre os candidatos, sem questionamentos de jornalistas, Aécio e Dilma trocaram uma série de afirmações ríspidas e acusações de distorções sobre as respectivas gestões – ele em Minas e ela no Palácio do Planalto.
Já no primeiro bloco do encontro, Aécio e Dilma procuraram marcar de forma contundente as diferenças. Dilma abriu o debate falando em “dois projetos e visões de País” e destacando o processo de inclusão social durante os governos do PT. A petista falou também em “combate sem tréguas” à corrupção, tema que dominaria o bloco seguinte. Aécio reconheceu avanços sociais importantes a partir das gestões de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), mas mirou na gestão federal da adversária ao afirmar que nos últimos quatro anos o País “parou de melhorar”. O tucano se apresentou como “mudança segura”.
A saúde, a partir de uma pergunta de Dilma, pautou o primeiro embate entre os candidatos e voltaria a ser citada ao longo do programa. A presidente questionou a oposição do PSDB à prorrogação da CPMF – criada na gestão FHC, mas cuja prorrogação foi vetada pelo Senado em 2007, no segundo mandato de Lula – e disse que, quando Aécio foi governador, o Estado não cumpria a Emenda Constitucional 29, aprovada em 2000 e que define porcentuais mínimos de investimento em saúde por União, Estados e municípios.
Durante a gestão do tucano, a administração estadual, com base numa instrução normativa do Tribunal de Contas do Estado (TCE) – que considerava outras despesas com ações e serviços públicos de saúde – afirmava que investia mais 12% do orçamento na área. A Emenda 29 só foi regulamentada no Congresso no fim de 2011 – Aécio deixou o governo em 2010.
“A senhora é tão desinformada. Nossas contas foram aprovadas pelo Tribunal de Contas do Estado, antes da regulamentação da Emenda 29, que seu governo demorou e cada Estado definia com muita clareza. Seu governo chegou a considerar Bolsa Família como investimento em saúde”, reagiu Aécio.
Dilma ainda acusou o adversário de, como governador, ter deixado de investir R$ 7,6 bilhões em recursos públicos que deveriam ter sido aplicados na saúde. Aécio diz que a campanha da adversária tem sido marcada pelos ataques e mentiras.
Verdades e mentiras. Ainda no bloco inicial, Aécio disse que a campanha da adversária se baseou em “ofensas e mentiras”. “A senhora não se arrepende de ter feito ataques tão cruéis no 1.º turno?”
Dilma havia afirmado que Aécio acabaria com o papel dos bancos públicos e justificou dizendo que a informação veio de Arminio Fraga – já anunciado pelo tucano como seu ministro da Fazenda caso seja eleito. A presidente defendeu a participação dos bancos públicos na economia, citando o BNDES como banco de subsídio à infraestrutura, o Banco do Brasil como financiador do setor agrícola e a Caixa Econômica Federal, do setor habitacional. “Vocês querem diminuir o papel da Caixa no setor habitacional. Sem a Caixa, não tem o Minha Casa Minha Vida”, argumentou Dilma. “Vocês nunca fizeram programas sociais quando puderam, sempre deixaram a desejar.”
Aécio repetiu que a petista “falta com a verdade” e afirmou: “O maior programa de transferência de renda da história contemporânea do Brasil não foi o Bolsa Família, foi o Plano Real, que vocês combateram com todas as forças”.
O tucano disse que Arminio tem defendido não o fim dos bancos públicos, mas a gestão dessas instituições com transparência. Sobre o programa Minha Casa Minha Vida, disse que pretende ampliá-lo, em especial no acesso da faixa da população que recebe até três salários mínimos.
‘Fabulações’. Mais à frente, Dilma chamou de “fabulação” a afirmação de Aécio de que o programa Bolsa Família foi iniciado no governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, tese que repetiu em outras oportunidades.
O próprio resultado das urnas no 1.º turno em Minas tornou-se motivo de embate entre Dilma e Aécio. Como tem insistido a campanha petista – com o mote de quem conhece, não vota em Aécio –, Dilma destacou o fato de o adversário ter perdido a eleição no segundo colégio eleitoral do País, que governou por dois mandatos.
No 1.º turno, a petista obteve 43% dos votos válidos no Estado, ante 40% de Aécio. O tucano chegou a dizer que os levantamentos internos de sua campanha mostram que ele está mais de dez pontos porcentuais acima da rival e incluiu a votação de sua nova aliada, Marina Silva (PSB), que obteve 14% dos votos válidos, para dizer que Minas deu vitória à oposição. “O senhor não pode usar pesquisas para contrariar um fato. É fato que o senhor perdeu em Minas”, reagiu Dilma.
Ações e corrupção. A exemplo do 1.º turno, os casos de corrupção envolvendo a Petrobrás voltaram a ser usados por Aécio para criticar as gestões petistas. O tucano afirmou que os brasileiros “acordam estarrecidos” com as notícias sobre desvios na estatal. Dilma afirmou que tem “determinação de punir todos os investigados, corruptos e corruptores” e voltou a defender o acesso a “tudo sobre esse processo da Lava Jato”.
A petista citou uma lista de casos relacionados ao PSDB, como o cartel de trens e metrô em São Paulo e a suspeita de compra de votos na aprovação da emenda da reeleição, alegando que “todos os envolvidos estão soltos”. Na tréplica, Dilma questionou o adversário sobre a construção do aeroporto de Cláudio, feita pelo governo de Minas, em um terreno desapropriado que pertencia a um tio-avô de Aécio e que fica a 6 km de uma fazenda de sua família.
Dilma ainda foi para o ataque contra Aécio ao acusar o adversário de praticar nepotismo. Citou parentes do tucano, entre eles a irmã do candidato, Andrea Neves, que participaram de seu governo, mas dando a entender, involuntariamente, que eles permaneciam nos cargos.
“Quero responder olhando nos seus olhos. A senhora está sendo leviana”, começou Aécio na resposta. O tucano afirmou que o Ministério Público Federal reconheceu a legalidade da obra. Aécio ainda disse que Dilma tinha “a obrigação de dizer onde minha irmã trabalha”. “É mentira atrás de mentira. A senhora mente para ficar no governo”, afirmou o candidato do PSDB. “Eu terminei meu mandato sem qualquer denúncia. Não respondo a nenhum processo. A senhora deixou o governo num mar de lama”, disse, citando expressão que os opositores usavam contra Getúlio Vargas.
A inflação e o ovo. O desempenho da economia do País – que tem apresentado baixo crescimento e, na última contagem dos últimos 12 meses acumulados, inflação acima do teto da meta de 4,5% – foi uma das armas de Aécio para atacar a adversária. O tucano lembrou em uma das perguntas a frase chamada de “infeliz” por Dilma dada pelo secretário de Política Econômica, Marcio Holland, de que os brasileiros deveriam recorrer a ovos no lugar da carne, caso o preço da carne estivesse muito alto.
Nas considerações finais, Aécio citou os novos aliados do PSB, além de Renata Campos, viúva de Eduardo Campos, e Marina. Dilma disse ao espectador que é preciso se perguntar quem é capaz de manter as atuais conquistas em áreas sociais. Acabado o debate, ambos se cumprimentaram.
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