- O Estado de S. Paulo
O PT se ressente da atitude crítica da imprensa na campanha eleitoral. Mas o partido não se ajuda na medida em que à autocrítica prefere a persistência no erro e não cria situação alguma em que seja permitido lhe atribuir algum acerto.
Não há racionalidade, maturidade, transparência nem respeito pelo discernimento alheio no trato das questões que mereceriam uma abordagem mais cuidadosa. Tudo é reduzido a uma simplificação infantilizada, embrulhada em invólucro de propaganda enganosa recheada de contradições que não resistem à luz da realidade.
Com todo respeito que a presidente Dilma Rousseff não demonstra pelo público a que se dirige, se alguém está pretendendo dar um golpe nesse caso das denúncias da Petrobrás é o PT quando recorre ao velho truque do João sem braço. Aquele que se faz de desentendido diante de uma situação difícil à espera de tirar alguma vantagem da adversidade.
O partido já se fez de sonso uma vez, no mensalão. Do ponto de vista eleitoral, colou. Mas ficou o resquício que virou passivo quando os dirigentes resolveram não dar ouvidos ao grupo que aconselhava a "refundação" (leia-se, enfrentamento real do problema e mudança de conduta) e optaram por dobrar a aposta na defesa dos condenados e na condenação dos juízes.
Agora os depoimentos de Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef alcançam o PT em plena campanha do segundo turno. O partido alega uso eleitoral, acusa manipulação e aponta vazamento parcial de informações.
Em primeiro lugar, quem se antecipou a informar que autorizara a compra da refinaria de Pasadena com base de relatório "falho" foi a presidente Dilma no início do ano porque tinha informações de que detalhes sobre os negócios da estatal viriam a público durante a campanha. A ideia era se precaver. Foi ela quem levou o assunto ao Planalto e consequentemente ao campo político.
Em segundo lugar, é de se observar a independência entre os poderes. O Legislativo não preza o princípio e, por isso, rendeu-se às exigências do Executivo contra as CPIs da Petrobrás. Mas o Judiciário não atrela seu calendário às conveniências desse ou daquele governo. Se o juiz Sérgio Moro e os procuradores responsáveis pelas investigações da Operação Lava Jato resolvessem esconder depoimentos que pela lei são públicos, aí sim deveriam ser acusados de manipulação eleitoral.
Já está devidamente esclarecido que o segredo de Justiça não inclui os depoimentos de Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef que estão sendo divulgados. Estes dizem respeito a uma ação penal cujo conteúdo pode ser requisitado por qualquer pessoa e já foi enviado à CPI da Petrobrás e à Corregedoria-Geral da União. O governo, portanto, tem acesso. Não faz sentido falar em "vazamentos seletivos".
Menos sentido ainda faz o PT processar o ex-diretor da estatal por difamação e a presidente da República cogitar a demissão do presidente da Transpetro, Sérgio Machado, citado no depoimento alegadamente mentiroso. A demissão foi barrada pelo PMDB, responsável pela indicação de Machado, lembrando que o tesoureiro do PT, João Vaccari, também havia sido citado. Ou seja, combate-se a corrupção "doa a quem doer" desde que doa no vizinho.
É de se perguntar qual a parte da ineficácia do truque de se fazer de desentendido o PT ainda não entendeu. O partido surpreende-se por ter sido impregnado com a pecha de corrupto, quando foi ele mesmo que por longo tempo menosprezou o tema.
Desqualificava os partidários da ética chamando-os de "udenistas", alimentou a tese de que as "mãos sujas" são inerentes ao exercício da política, a fim de amenizar o efeito do escândalo do mensalão argumentou que fazia o que "todo mundo faz", posicionou-se na contramão da opinião pública na defesa dos réus e no ataque ao Supremo Tribunal Federal, enfim, caiu na própria armação. E paga o preço do excesso de esperteza.
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