Diante da gritante necessidade de fazer alguma coisa para aliviar a pressão política que a sufoca e garantir um mínimo de condições para fazer aquilo para o que foi eleita - governar o País -, Dilma Rousseff anunciou a inclusão no núcleo articulador das ações políticas do governo de três ministros pertencentes a partidos aliados: Gilberto Kassab (PSD), Eliseu Padilha (PMDB) e Aldo Rebelo (PC do B). Ela vai ter de se superar, considerando a enorme dificuldade que tem de entender-se com quem quer que seja fora de seu círculo íntimo. É nesse ambiente que ela fica à vontade para exercitar seu autoritarismo e intolerância. Resta saber até que ponto está disposta a mudar, não apenas a composição de sua equipe de comando, mas a si própria. Os antecedentes não estimulam o otimismo.
Os termos em que Dilma anunciou sua decisão traem a contrariedade diante da medida que as injunções políticas obrigaram-na a adotar. Em vez de simplesmente anunciar aos jornalistas que havia decidido mexer na equipe, Dilma revelou o grau de consideração pessoal e política que tem em relação aos novos membros do grupo: "Não há nenhuma modificação na coordenação política". Para emendar, rendendo-se aos fatos: "... a não ser o seguinte". E passou a informar a inclusão dos três ministros aliados na coordenação política em que não haveria nenhuma modificação.
A novidade não se deve, é claro, à iniciativa da própria presidente. É parte das providências que lhe haviam sido recomendadas pelo ex-presidente Lula em reunião do comando petista realizada na noite de terça-feira. O objetivo do encontro era tentar reparar os estragos causados nos últimos dias pelo agravamento da crise com o PMDB, a repercussão negativa do discurso presidencial no Dia da Mulher com o panelaço por todo o País e as vaias recebidas por Dilma no Anhembi, em São Paulo.
Na ocasião, Lula voltou a insistir na necessidade de uma reformulação da equipe de articulação política do Planalto, com o afastamento do chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, dessa atividade para restringir-se à coordenação administrativa do governo e também a troca do titular das Relações Institucionais, Pepe Vargas, criticado dentro do próprio PT e simplesmente ignorado pelo comando peemedebista do Congresso. Mas, sobretudo, Lula recomendou que Dilma chamasse o PMDB para participar mais efetivamente do governo, de modo a superar de vez o impasse no relacionamento do Planalto com o partido que é teoricamente seu principal aliado.
Dilma, porém, resiste sempre a medidas que impliquem a admissão de seus próprios erros. Parece acreditar em tudo o que tem dito em discurso ultimamente: não há crise política nem econômica, as dificuldades que o País enfrenta (coisa que só recentemente passou a admitir) são passageiras, "conjunturais", e produto da "crise internacional". Por que, então, haveria de dar ouvidos às aves de mau agouro que não entendem quais são os verdadeiros problemas nacionais e a melhor forma de enfrentá-los?
Parece um caso perdido. Se continuar assim, vai acabar forçando Lula, que é esperto o suficiente para não lhe oferecer um abraço de afogado, a encontrar outros meios para viabilizar sua ambição de voltar à Presidência, ancorado no projeto de poder pelo qual o PT se tornou obcecado.
Com certeza pouco confiantes na capacidade de Dilma de recuperar o próprio prestígio e com isso impedir que o PT se mantenha eleitoralmente competitivo, os companheiros andam indóceis e ensaiam ousadias antes inimagináveis. Edinho Silva, deputado estadual pelo PT em São Paulo e ex-tesoureiro da campanha reeleitoral de Dilma, divulgou carta aberta a seu partido em que alerta para os erros políticos que a seu ver estão sendo cometidos. Numa autocrítica que veio à luz, certamente não por coincidência, no dia seguinte àquele em que o delator premiado Pedro Barusco declarou à CPI da Petrobrás que em 2010 repassou US$ 300 mil à campanha de Dilma, Edinho Silva proclama, com a habitual soberba petista: "Nunca na nossa história assimilamos com tanta facilidade o discurso oportunista de uma direita golpista e nunca estivemos tão paralisados". Mas agora Dilma diz que vai mudar.
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