• Protestos contra o impedimento da presidente aconteceram em todos os estados e DF; 159 mil participaram
- O Globo
- BRASÍLIA, RIO E SÃO PAULO- Manifestantes elegeram ontem o PMDB e o vice-presidente, Michel Temer, como alvos durante protestos contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff. Os atos foram promovidos em todos os estados e no Distrito Federal. Também houve protestos no exterior. Grupos contrários ao afastamento da presidente se reuniram em Lisboa e Berlim. No Rio, onde os manifestantes ocuparam o Largo da Carioca, no Centro, grupos de apoio a Dilma e ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, militantes do PT e de partidos aliados lembraram o aniversário do golpe militar de 1964 e cantaram para Temer a música “Vou Festejar”, da sambista Beth Carvalho: “Você pagou com traição a quem sempre lhe deu a mão”, numa referência também ao PMDB. E arremataram: “Já vai tarde”. O ato teve a participação do compositor Chico Buarque. No Recife, faixas trouxeram a frase “Amém, PMDB está Fora!”, numa referência ao desembarque da legenda do governo.
Segundo a Polícia Militar, as manifestações reuniram 159 mil pessoas, número menor que o dos atos pró- Dilma promovidos no último dia 18, quando o total chegou a 275 mil manifestantes. O número não leva em conta o Rio, onde a PM não divulga dados sobre tamanho de protestos.
Para os organizadores, os protestos de ontem levaram às ruas 824 mil pessoas ( também sem o Rio); no dia 18, reuniram 1,3 milhão. Já no dia 13 de março, atos contra a presidente reuniram 3,6 milhões de manifestantes, nos cálculos da PM, e 6,9 milhões, nas contas dos organizadores.
Paródia e críticas a Cunha
O dia de protesto foi marcado para ontem por causa do aniversário do golpe militar de 1964 — 31 de março. No Rio, um dos gritos de guerra dos manifestantes era: “Renuncia, Temer!”. Cartazes estampavam: “PMDB: Partido Mais Desmoralizado do Brasil”.
Além de cantarem o samba de Beth Carvalho, manifestantes no Largo da Carioca ainda fizeram uma paródia da música “Uísque a Go- Go”, do grupo Roupa Nova: “Em 2018 Lula vai vencer; Aécio vai chorar mais uma vez; a luta aqui é pobre contra burguês”.
Representantes de movimentos sociais e políticos se alternaram no palco fazendo discursos em defesa do governo; contra o presidente da Câmara, Eduardo Cunha ( PMDB- RJ) e a imprensa. Em resposta, o público respondia “Fora, Cunha!”.
Parte dos manifestantes chegou ao Centro do Rio em ônibus alugados vindos de bairros da Zona Oeste do Rio e de municípios da Baixada Fluminense.
Já em SP, representantes de entidades e movimentos sociais realizaram um ato contra o impeachment na Praça da Sé, no Centro. Segundo a PM, 18 mil participaram do ato. Para os organizadores, 60 mil.
O ato reuniu integrantes da Central Única dos Trabalhadores ( CUT), do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra ( MST), do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto ( MTST) e da juventude de partidos como PT e PSOL. Em discursos, lideranças lembraram o aniversário do golpe militar, associando o atual momento político à intervenção militar para retirada do presidente João Goulart, em 1964.
Organizadores do ato distribuíram centenas de balões vermelhos com a mensagem “Não vai ter golpe”. Também foram alvos dos manifestantes o juiz Sérgio Moro, que conduz os processos da Operação Lava- Jato, e o ministro do STF Gilmar Mendes, além de líderes da oposição, como Aécio Neves ( PSDB) e Eduardo Cunha ( PMDB). Os manifestantes pediram investigações sobre eventual pagamento de propina em Furnas e sobre as contas de Cunha no exterior.
O presidente nacional do PT, Rui Falcão, foi ao ato, mas não discursou. Em entrevista, ele criticou o vice Michel Temer:
— Lamento que o vice eleito sob o mesmo programa de governo da presidente esteja participando disso. E isso tem nome: é golpe.
Ônibus fretados em Brasília
Cerca de 50 mil pessoas foram às ruas em Brasília, segundo a Polícia Militar, no protesto de ontem. No cálculo dos organizadores, a marcha em defesa da presidente reuniu 200 mil na Esplanada dos Ministérios.
Mais de 350 ônibus, segundo a Secretaria de Segurança Pública, levaram manifestantes de todas as regiões do país, trazidos por sindicatos, associações de classe e movimentos sociais, entre outros grupos que apoiam Dilma. Eles se concentraram em frente ao Estádio Mané Garrincha, onde receberam camisetas, água e bandeiras da Central Única dos Trabalhadores ( CUT).
Na passeata até o Congresso, gritos de “Não vai ter golpe, vai ter luta” e muitas faixas contra Eduardo Cunha e o juiz Sérgio Moro. Os manifestantes projetaram frases de “Fica, Dilma” e “Fora, Cunha” nos prédios do Congresso. Do alto de carros de som, canções da música popular brasileira ganharam versões, a exemplo de “O que é, o que é”, de Gonzaguinha:
— Mas isso não impede que eu repita: Dilma fica, Dilma fica, Dilma Fica — cantaram os manifestantes.
Alguns políticos e artistas discursaram. O ministro do Desenvolvimento Agrário, Patrus Ananias, disse que a oposição quer acabar com o Bolsa Família. O ator Sérgio Mamberti conclamou os manifestantes à luta contra o golpe. A expectativa de que Lula discursaria foi frustrada quando os organizadores colocaram uma gravação do ex-presidente Lula, que não chegou a ser executada inteira por problemas técnicos.
(Alessandro Giannini, André de Souza, Fernanda Krakovics, Gabriel Cariello, Isabel Braga, Renan Xavier*, Renata Mariz e Thiago Herdy. Com G1. * Estagiário com supervisão de Francisco Leali)
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