“Trata-se de uma perspectiva sombria e perturbadora, mas atenção: a situação de sociedades dominadas pelo medo não é de modo algum um destino predeterminado, nem inevitável. As promessas dos demagogos podem se afirmar, mas também têm, por sorte, vida breve. Uma vez que novos muros vierem a ser erguidos e mais forças armadas forem dispostas nos aeroportos e nos espaços públicos; uma vez que se recusem os pedidos de asilo de quem procura fugir de guerras e destruições e que mais migrantes sejam repatriados, ficará evidente que tudo isso é irrelevante para resolver as causas reais da incerteza. Os demônios que nos perseguem – o medo de perder nossa posição na sociedade, a fragilidade das metas que definimos – não irão evaporar, não desaparecerão. Nesse ponto, poderemos despertar e desenvolver os anticorpos contra as sereias dos demagogos e dos bufões agitadores que tentam conquistar capital político com o medo, jogando-nos fora da estrada. O temor é que, antes que esses anticorpos sejam desenvolvidos, muitos vejam as próprias vidas serem destruídas.”
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Zygmunt Bauman (1925) é um sociólogo polonês. Serviu na Segunda Guerra Mundial pelo exército da União Soviética e conheceu sua esposa, Janine Bauman, nos acampamentos de refugiados polacos. Entrevista ao Jornal italiano Corriere dela Sera, 27/7/2016.
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