- O Estado de S. Paulo
A reunião de cúpula do Grupo dos 20 (G-20), em realização na China, neste fim de semana, não vai servir apenas para que o presidente Obama tire sua última foto na companhia dos chefes de Estado mais importantes do mundo – e para que Temer tire a primeira. Ela foi convocada para definir uma atitude dos senhores do mundo a respeito da onda crescente do sentimento antiglobalização.
O G-20 é, por si só, importante marco da globalização. Começou em 1999, como G-7, para de alguma forma coordenar programas globais de política e administração econômica. E foi ampliado em 2008 para G-20, quando incorporou também líderes de países em desenvolvimento.
Desta vez ele se reúne na cidade de Hangzhou, 1.257 quilômetros ao sul de Beijing, para definir políticas destinadas a encorajar o crescimento econômico e o emprego e reverter o mal-estar que se espalha pelo mundo.
O Brexit, a multiplicação de movimentos nacionalistas de direita, a crescente hostilidade aos imigrantes, o alastramento do desemprego, o aumento do protecionismo no comércio e na produção e, até mesmo, a rápida expansão do Estado Islâmico que acolhe massas desesperançadas e lhes acena com propostas messiânicas e libertadoras – tudo isso compõe um quadro de desilusão, insegurança e ceticismo em relação ao futuro.
A fatia do bolo vem diminuindo para cada vez mais pessoas, a aposentadoria dos trabalhadores e a poupança das famílias estão sob risco à medida que o sistema financeiro global ameaça fraquejar, os enormes déficits dos governos ameaçam os sistemas de seguro social e a política monetária dos grandes bancos centrais dá sinais de esgotamento. Paradoxalmente, o país-sede desta reunião de cúpula é apontado como uma das causas mais profundas dos movimentos contra a globalização, na medida em que suas exportações a preços baixos, produzidas por mão de obra barata, são percebidas como grandes exterminadoras de negócios e de empregos no Ocidente.
A proposta da hora é mobilizar recursos orçamentários para extensos programas de desenvolvimento. Até mesmo para o ultraortodoxo Fundo Monetário Internacional, a saída é mais crescimento e não mais austeridade.
Essa proposta de ampla abertura fiscal esbarra na limitação óbvia. Os Tesouros estão exauridos ou muito próximos disso e são os mesmos chefes de Estado que examinam essas novas propostas que vêm sendo pressionados em seus próprios países para tomar decisões em sentido contrário. Se até mesmo no país mais rico do mundo, os Estados Unidos, o eleitor está sendo chamado a aprovar projetos de exclusão, de construção de muros nas fronteiras e de barração de produtos importados – como os defendidos pelo candidato republicano à presidência, Donald Trump –, como garantir movimentos globais de inclusão e de abertura da economia?
Em outros tempos, problemas dessa ordem eram resolvidos por meio da guerra, que buscava a destruição de quem ousasse meter a mão no prato do vizinho. Hoje, as coisas parecem bem mais complicadas.
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