• Líderes de PSDB e DEM ameaçaram recorrer ao STF, e presidente considerou ‘inadmissível’ a divisão na base
Cristiane Jungblut, Júnia gama, Simone Iglesias e Maria Lima - O Globo
-BRASÍLIA- Um acordo entre aliados de Dilma Rousseff e o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), evitou ontem que a ex-presidente fosse punida também com a proibição de exercer cargos públicos. Com aval do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) e do processo de impeachment, ministro Ricardo Lewandowski, o julgamento foi fatiado, e o Senado, depois de condenar Dilma à perda do cargo, fez uma segunda votação em que não houve votos suficientes para deixar Dilma fora da vida pública por 8 anos. Para o impeachment de Dilma, foram 61 votos contra 20. Na segunda votação, 19 senadores mudaram de lado, boa parte deles do PMDB, incluindo três que se abstiveram. O placar ficou em 42 votos pela punição, contra 36 e três abstenções.
A defecção de peemedebistas, capitaneada por Renan, em uma ação cuja maternidade foi assumida pela aliada de Dilma Kátia Abreu (PMDB-TO), deixou a base do governo irada. O próprio Temer manifestou publicamente sua contrariedade horas depois. Em discurso numa reunião ministerial no Planalto, Temer disse que esse comportamento tinha sido “inadmissível”.
— Há partidos que já avisam: vamos sair do governo. Isso é fazer jogo contra o governo. Então, estou dizendo muito claro para dar o exemplo de que não será tolerada essa espécie de conduta. Se há gente que não quer o governo dando certo, declare-se contra o governo. Essa divisão na base é inadmissível. Se é governo, tem que ser governo — disse Temer.
A estratégia de fatiar o julgamento vinha sendo costurada desde sexta-feira. Segundo senadores, Lewandowski concordava com a tese. Ontem, foi apresentado um destaque para provocar a segunda votação. E Renan, que votara antes pela perda do mandato de Dilma, pediu a palavra para dar a senha: para ele, a primeira pena estava de bom tamanho.
— No Nordeste, se diz: além da queda, o coice. Não podemos ser maus, desumanos. Meu voto é não à inabilitação — disse o presidente do Senado.
Entre os que beneficiaram Dilma estavam o líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE), e o senador Valdir Raupp (PMDB-RO), que se abstiveram. A articulação que pegou de surpresa os aliados foi considerada “esdrúxula” por Temer, que teve que entrar em campo para conter a rebelião entre os aliados. Ao acompanhar a sessão, no Palácio do Jaburu, o peemedebista foi surpreendido pela decisão. Reservadamente, líderes da base inconformados com a vitória “pela metade” acusaram os envolvidos de incluir no acordão a votação do aumento para os ministros do Supremo antes que Lewandowski deixe o comando do STF, na próxima semana.
DEM, PSDB e PPS protestam
Num primeiro momento, os líderes de PSDB, DEM e PPS da Câmara anunciaram que recorreriam ao STF para tentar reverter a decisão do Senado de não proibir a ex-presidente de ocupar funções públicas. Segundo tucanos, o líder do governo, Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), chegou a entregar o cargo. Ronaldo Caiado (DEM-GO) e Cássio Cunha Lima (PSDB- PB) disseram que era preciso rediscutir a relação com o PMDB para evitar a prática de fazer política com “bola nas costas” .
Assustado com a reação, Temer ligou para Aécio Neves (PSDB-MG) e prometeu subscrever o recurso ao STF.
— Foi um gesto do presidente Temer para provar que não participou de nenhum acerto para livrar Dilma da cassação de seus direitos políticos. O que aconteceu azeda a relação dos aliados num momento extremamente delicado do país e do governo. Estou tentando pôr panos quentes para segurar — disse Aécio.
— Saímos dessa votação com o gosto amargo da péssima sinalização de uma nova aliança de setores do PMDB com o PT. É uma esperteza que não cola junto à sociedade — protestou Caiado.
Após a primeira reação indignada, porém, o Planalto ponderou que, neste momento, é melhor relevar o fato de Dilma não ter ficado inabilitada para evitar a judicialização do impeachment. Temer afirmou a auxiliares que seria solidário ao PSDB e ao DEM, seja qual fosse a decisão que eles tomassem a respeito do tema. Mas, interlocutores do presidente conversaram com líderes desses partidos para convencê-los de que não é momento de trazer mais ao STF. Janaína Paschoal, advogada de acusação contra Dilma, declarou ser contra a ação no Supremo.
— Como os aliados de Dilma não poderão questionar a aprovação do impeachment, a acusação também não pode questionar a decisão de derrubar a inabilitação. O Senado é soberano — disse Janaína. (Colaboraram Eduardo Bresciani e Evandro Éboli)
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